segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Lua que Beija o Rio


Lua que beija o rio,

Lua que beija o mar,

Leva para longe a saudade,

Antes dela me matar.


Cercada de escuridão,

Fazendo de prata o mar,

Leva embora a saudade,

Mas leva bem devagar, 

Alma vazia dói muito

Deixa a saudade ficar.


Vem clarear minha noite.

Caminhos de meu andar,

Ilumina minha mente,

Vem e me ensina a rimar.


Na escuridão da noite,

Parece nascer do mar,

Antes de subir nos céus

Tenta tocá-lo e beijar.


A água do mar tremula,

Refletindo a luz da lua,

E espumas luminosas,

Vêm banhar a praia nua.


Vai levando as saudades,

Porém sem nunca acabar,

Leva lento e de mansinho,

Ponha outra no lugar.


Por certo fica a saudade;

Da noite, do mar, da areia,

Desse lume cor de prata,

Da noite de lua cheia.


Rilmar – 27/10/2021



Um Olhar

Exaurido em minha capacidade de suportar as saudades, intentei analisá-las, classificá-las e separar por grupos, por espécies, intensidades, por tipos de sentimentos nelas contidos. Para enfim, eu como um analista, entender e assim poder, num sopro, desfazer, ao menos as mais doloridas.

Postas ali na mesa se assemelhavam em muitos pontos, mas bem observadas, não só com os olhos; aplicados sentimentos, coração, lembranças, alma; percebia-se nítidas diferenças.

Saudades de gentes várias indistintas e em grupos. Saudades de amigos, de colegas, de turmas sorrindo, conversando, contando experiências, saudando, festejando fazendo algazarras.

Saudades das vivências longas em família com presença de nossos pais, irmãos, irmãs, coisas da casa; do dia a dia, das alegrias vividas juntos em família. Imensas saudades de minha mãe.

Saudades de lugares, do dia a dia no trabalho, dos folguedos, dos jogos com minhas turmas.

Dos namoricos, dos flertes que nos enchiam de sonhos. Dos namoros cheios de inseguranças e ciúmes.

Encontrei, casualmente, a saudade de uns olhos cujas cores não esqueço; um castanho escuro irisado de tons claros brilhantes que diziam coisas à minha alma e eram muito mais um olhar que dois olhos. Tenho certeza de que emanações luminosas saem dos olhos e no trajeto se cruzam e nos alcançam já como um envolvimento inebriante e mágico; eis o que é o olhar.  Naquele olhar consentido e direcionado aos meus olhos, eu me embebia e sorvia sonhos, esperanças, promessas, ilusões imensas e indefinidas. Sentia que me envolvia e dominava, mas era de tal maneira irresistível, doce, bom e suave que eu me deixava envolver e nele mergulhar sem me importar quão profundo era nem até onde me levaria e o que de mim faria.

 Ela, angelical e sorridente, parece que também sentia o que meus olhos diziam, também se inebriava, então mergulhávamos juntos na imensidão daquela envolvência sem sabermos até onde iríamos.

E íamos, e íamos...

Mesmo depois de nos afastarmos, continuava sonhando, absorto, desligado do mundo, percebendo tudo com a alma e como que desprovido dos sentidos.

Esses olhares, esse repetido olhar, ainda hoje, assoma vez por outra, de dentro de mim, pois impregnou minha alma. Quando emerge ainda tem o poder de me levar de volta no tempo a ressentir as lembranças, as emoções, ela; o momento e o lugar. Até o perfume suave de uma dama da noite que florescia distante e o vento trazia dando mais encanto à noite; até esse sutil aroma retorna nessa saudade.

Há uma certa e boa concretude nas lembranças que o reviver esse olhar me traz.

No entanto, o tempo, esse impalpável componente da existência; com suas horas fugazes, dias, noites, meses e anos. Consome os momentos irreversivelmente e nesse consumir leva juntos os seres que fomos, esmaece a nossa capacidade de sentir a vida com as alegrias e encantos juvenis, com a pueril inexperiência onde cada detalhe do viver era algo novo e carregado de emoções nunca dantes sentida.

O Tempo, o mesmo tempo que nos amadureceu, nos afastou, interpondo-se entre nós, entre as emoções daqueles olhares e o nosso hoje. Mexeu em nossos corações, mudou nossos sorrisos, pôs neblina em nossos olhos impossibilitando-os de captar olhares em toda sua intensidade.

Há uma lembrança viva, buscada em certos momentos, mas o tempo leva tudo para tão intransponível distância que só consigo alcançar imagens fugidias, perfumes quase imperceptíveis, e um olhar lembrado que ainda consegue mexer comigo e causar uma dor funda e doce no coração ou na alma.

Ela linda e juvenil, a noite silenciosa de brisa fresca, a dama da noite exalando um perfume inebriante, o brilho de seu olhar, seu rosto maravilhoso e expressivo fazendo parte do encantamento e nós ali, tão jovens, descobrindo emoções tocados apenas pela magia do olhar.

Me perco nesse olhar e as demais e incontáveis lembranças postas na mesa para análise ali permanecem inertes e esmaecidas pois algumas lágrimas vertidas turvam mais a minha vista e expressam um embotamento da mente que, agora, não consegue mais ser racional e continuar a tarefa pretendida.

                                                                           28/09/2021  - rilmar