sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Menina na Janela

Segredos não são eternos. Podemos guardá-los no mais recôndito escaninho de nosso ser, no mais secreto da alma e, mesmo assim, um dia ele escapa e se revela. Essas casas, essas janelas, essa sacada; tudo me faz lembrar tão fortemente um tempo, um viver, umas gentes e, finalmente, uma pessoa. O significado de tudo, o porquê das coisas, o motivo, a vida enfim, aconteciam pela presença dela. Eram uns olhos negros, irisados de um castanho brilhante. Era um rosto meigo e lindo no qual fulgia um sorriso branco e pleno de uma alegria cativante e juvenil. Eram gestos delicados e graciosos. Era uma presença em uma daquelas janelas que provocava mil sentimentos dentro de meu peito e tornava tudo luminoso e repleto de irradiante alegria. Era um amor proibido e inatingível o qual, por mais que que eu trabalhasse de sol a sol, por mais que minha enxada tilintasse nas pedras e rebrilhasse ao sol escaldante; por mais que eu quisesse, me atrevesse e pretendesse: Não era para mim. Ainda assim eu amei, me embebi nos seus olhares, tive imensas noites de insônia e de sonos povoados de sonhos maravilhosos onde nós dois vivíamos coisas tão intensas, tão plenas e tão impossíveis que só podiam existir nos meus sonhos. Ainda assim me maravilhei com os sons de seus sorrisos e de sua voz; com seus trejeitos, com seus claros e indisfarçáveis modos de mostrar que me percebia, me correspondia e até sabia a hora que eu voltava da roça e então aparecia na janela, às vezes, com uma florzinha presa nos cabelos e, sempre com aquele sorrisinho juvenil iluminando seu rostinho encantador. - -Não era para mim, não foi minha. No entanto, as lembranças... Ah!... Essas ninguém me rouba. São minhas e seguirão comigo. Olhando essas casas, uma magia acontece e essas lembranças borbulham e brotam, ainda que não seja propriamente esse o lugar, ainda que não sejam exatamente essas as janelas. -- Rilmar

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