segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Sou Francisco



SOU FRANCISCO
                                                                                   
  (Rilmar)

Sou Francisco como o Santo de Assis que emanava exemplos de humildade, mansidão, resignação e simplicidade.

Francisco para mim, foi mais profecia que escolha pela beleza do nome.

Aquela que me gestou, que me teve, acalentou e me nutriu; adivinhou a minha sina; e, por sina fui batizado Francisco.

Não calço as franciscanas sandálias do santo de Assis, pois dos pés restam pouco mais que metades. Humilde, resignado e manso hei de andar mundo afora porém, sapatos especiais terão que ajudar em meu equilíbrio e proteger meus pés.

As longas vestes que outrora Francisco usou, não usarei, mas seriam proteção e talvez amenizassem a aparência de um dos braços do qual perdi mais da metade.

Sou Francisco de nome, de humildade, de resignação, de fé, de inquebrantável busca pela vida e da confiança que nutro por todas essas pessoas que me cercam e cujas boas ações certamente semearei sobre meus semelhantes.

Francisco sou, filho do Deus altíssimo, em cujo amor confio, do qual tudo espero e a quem, como Jó, não deixo de amar.

O Deus altíssimo meu senhor e criador, deve saber porque eu, vindo do trabalho, da dura lida de toda a vida; de repente pisei num fio de alta tensão que escondido na relva, como uma terrível serpente, me aguardava. Dor, imensa dor, choques, clarões, relâmpagos em minha mente, uma energia insuportável e destruidora percorreu meu corpo contraindo cada um de meus músculos, envolvendo meu cérebro e me levando a convulsões, à inconsciência e a uma espécie de morte.

A morte me levou... levou... O mundo sumiu... e mergulhei no nada.

Mas, voltei!... Por obra de Deus eu voltei.

Voltei para estar ora em uma UTI, ora no Centro Cirúrgico, padecer todos os padecimentos, todos os sofreres imagináveis. Dor, tristeza, desesperança, saudades, febres, angústias, medos.

Voltei também para conhecer um ambiente de atenções, amizade, tratamentos, os mais variados; desde cuidados com a higiene, os mais íntimos, os mais humilhantes e vergonhosos para mim; os mais difíceis e repugnantes, talvez, para quem me cuidava. E, eram anjos, abnegados anjos que circundavam meu leito. Também a mais fina ciência capaz de entender o menor e mais sutil desequilíbrio de meus fluidos corporais e corrigi-lo; os mais complexos procedimentos cirúrgicos feitos uma, duas, três... incontáveis vezes, sempre sujeitos a riscos, mas indispensáveis e direcionados a permitir que eu continuasse vivo, a que eu sobrevivesse.

Vieram também certas e duras decisões. Difíceis decisões para a equipe médica, indispensáveis para a vida, quase insuportáveis para mim. Decisões que redundaram em inevitáveis amputações de partes dos meus pés e grande parte de meu braço esquerdo.

Mil profissionais debruçaram-se sobre mim em cuidados e avaliações. Incontáveis colheitas de sangue. Incalculáveis punções, curativos dolorosos, jejuns, mobilizações no leito. Mil profissionais falaram comigo me animando, tentando me energizar, elevando meu astral. Mil profissionais trocaram ideias, balançaram cabeças, fizeram cálculos, analisaram exames e tomaram decisões no afã de me salvar.

E a vitória veio. Salvo fui.

Sou Francisco por sina. Deus me quis Francisco e, mesmo sem as sandálias, as vestes longas, as mãos pródigas em bens para distribuir e plenas de graças do Deus altíssimo; Francisco sou e cumpro minha sina. Sina de humilde proceder. De resignado olhar; de fé imensa e crença inabalável (também como Jó), de que Deus me ama.

Francisco sou, filho de Deus. Francisco querendo a vida. Querendo andar e levar uma palavra, um testemunho, uma mensagem ao meu próximo, ao meu semelhante, a quem eu possa passar algo de bom conforme recebi e conforme esse irmão necessite.



(abril de 2015)

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