Passarão os homens, a ambição, a inconsequência... A Terra, não.
No tempo dos voos das cosmonaves, a mente livre percorre as amplidões dos espaços siderais e perpassa satélites, planetas, poeiras cósmicas, pedregulhos meteoríticos, estrelas das mais variadas magnitudes e salta de sistema em sistema ganhando as mais longínquas e impensadas paragens das amplidões infinitas.
O homem pensa na posse de algo tão imenso que nem sequer imagina quão grande seja.
As mentes fervilham e trabalham.
A ciência se desenvolve e avança.
No tempo da comunicação impossível, das mensagens estelares, dos contatos com outras dimensões de existência apenas suspeitada; do envio de imagens através do vácuo desde os mais distantes planetas à Terra, e de tantas ondas enviadas aos espaços infinitos levando imagens e sons que, sabe Deus, talvez sejam captadas em lugares nunca por nós imaginados.
Na era do vasculhar das potencialidades das mentes até nos seus aspectos mais extra-sensoriais.
Você continua sendo a mãe extremosa, mãe de todas as mães e dos pais, e dos avós e de todos os ancestrais, enfim.
Você que protege sem desproteger, sem enfraquecer o forte ou debilitar o fraco. Que incansavelmente vem, há milênios, nos expondo à luz e ao calor do Sol ao fazer o dia e, ao saber-nos cansados, envolve-nos em sua imensa sombra para que repousemos, e faz a noite.
Você que por milhões de anos se preparou para nos conceber, mercê da vontade de Deus; e por outros tantos nos gestou com infinita paciência, aguardando um lentíssimo evoluir de moléculas, de vírus de bactérias e de uma cadeia imensa de complexidades sucessivas até chegar ao que somos.
Amada mãe que cede cada átomo, cada cristal, cada molécula para a estruturação de todos os seres. E, os protege para que sobrevivam, e os expõe à agruras e labores para que se robusteçam e ganhem têmpera; e lhes proporciona belezas, perfumes e sensibilidade para que, sendo fortes e rijos também saibam sentir os abstratos sublimes como a saudade, o amor, a fraternidade, a poesia; e que, quando a vida cessa e a alma ganha o infinito, reabsorve cada fragmento, cada grão e seleciona elemento por elemento recondicionando-os para que propiciem renascimentos e , como um todo universal, se eternizem.
No tempo das maravilhosas realizações dos homens...
Você, sábia como sei não há, por certo, de ficar impassível a tudo o que essas realizações maravilhosas vêm destruindo em você.
Paciente e sábia, eis a sua maior qualidade. Imagino que bem poderia inclinar a sua equatorial cintura de quarenta mil quilômetros e inverter a posição dos pólos com a mesma. Isso provocaria tanta cessação de vida, que a superpopulação, o alucinado progresso, o desenfreado e irracional consumo, tudo regrediria séculos ou milênios. Uma nova humanidade talvez então se conformasse mais evoluída, mais perfeita e mais digna de você.
Mas você é mãe!... E, as mães criam, sofrem se doam, se consomem e, muitas vezes sucumbem ante a ingratidão ou a insensibilidade dos filhos, porém nunca sequer lhes ocorre a palavra vingança.
E você fica impassível, ou por ser mãe, ou por entender que a humanidade apenas segue uma trajetória previamente traçada como parecem ser todas as trajetórias de tudo o que existe no Universo.
Não é mérito, nem culpa minha, se sendo rijo e forte sou sensível a ponto de dizer que mais que pela gravidade me prendo em você pelo amor e pela gratidão.
Rilmar - 1979
22 de abril - Dia da Terra