quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
Igreja Ipameri Nssa Sra D'Abadia
Rilmar José Gomes Estão vendo aí esse chão de terra batida com uma rala camada de grama por cima?... À noite essa multidão será muito maior e lotará toda essa praça, talvez faça frio e as pessoas acendam fogueiras pequenas só para aquecer e atrair pessoas para a venda de quentão. As barracas erguidas em madeira rústica e cobertas por folhas de coqueiros, ganharão vida iluminadas e cheias de gente. Moças bonitas passarão vendendo correio-elegante. Alguém usará um microfone lá dentro da barraca maior e vai leiloar deliciosos frangos e leitoas assadas. Miríades de rostinhos bonitos de meninas da cidade e dos arredores, passarão desfilando em uma passarela estabelecida espontaneamente entre a porta da igreja e esta barraca maior. Muitos sorrisos inesquecíveis se estamparão nos rostos das meninas, muitos segredos trocados enquanto apontam alguém com um gesto dos lábio e um desvio do olhar. Nós, os rapazes, estaremos, com certeza, ladeando a passarela inteiramente encantados, envolvidos, enebriados. Lá pelas onze horas, como que por encanto, as meninas vão sumindo, o frio vai aumentando e os corações cheios de júbilos e enternecidos vão retornando aos lares onde a emoção irá pouco a pouco sendo vencida pelo sono e dando lugar aos sonhos. Deve ser agosto. Falo da festa em homenagem a Nossa Senhora D'Abadia. Inesquecíveis momentos aí vividos mais pelo poder da ilusão e da adolescência na empolgação de descobrir a vida
sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
Goiano Geraldinho
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Goiano Geraldinho
Rilmar
José Gomes O Geraldinho era um artista agradável, inteligente e que falava com
naturalidade, com modos, entonações, gestos , temas e vocabulário que agradavam
em cheio. Agradava pelo humor, pela riqueza de detalhes e interpretação e
porque tudo isso, ajuntado à figura de quem interpretava a si mesmo; com a boca
desdentada, uns nódulos de tireoide engrossando o pescoço, pele curtida pelo
tempo e as intempéries, butinas carcomidas pelo uso e pelo tempo, chapéu,
roupas e tudo mais que o compunha. Tudo isso era um retalho vivo de nossas
tradições, de um tempo bom em que parávamos para ouvir casos e a arte de
contar, de enfeitar, de expressar humor contando fatos corriqueiros e com
pequenas doses de exageros, de picardia; era uma arte viva que tinha público e
animava as reuniões. Há que ser simples e ter no DNA memórias de um tempo que
embora já seja passado, ainda está em nós pelo que nossos ancestrais relatavam,
pelos que testemunhamos ou ainda vivenciamos, pelo que andamos lendo em
Suassuna, Guimarães Rosa e outros, ou pelo que amealhamos da tradição oral
ouvindo pessoas e observando resquícios ainda existentes nas choupanas não de
todo destruídas e nos vocabulários e modos ainda persistentes nos derradeiros
seres desse tempo. Para o simples e portador desse DNA; a fala do Geraldinho,
além de agradável e engraçada; tem um conteúdo rico e impregnado de nossas
tradições.
•
José Américo Mamede Barbosa Compartilho dessa admiração. Mais ainda por Esse
quem o homenageia, pois me faz lembrar nada menos que um prêmio nóbel de
literatura, Herman Hesse, com tamanha capacidade de expressão em tão poucas
palavras.
•
Rilmar
José Gomes Obrigado, José Américo
Mamede Barbosa, pelo comentário.
Manifestei-me movido pelo fato de alguém, em uma outra publicação, não minha,
ter feito um comentário desairoso em que associava o Geraldinho à falida
Caixego desmerecendo o seu valor intrínseco e...Ver mais
quarta-feira, 3 de janeiro de 2018
Volta à Estação
A Rima e o Tempo
A Rima e o Tempo
Fiz uma rima num dia
Em que a chuva caía.
Ela sorrindo, não me via,
Brincava e rodava, enquanto chovia.
Voltei a rimar, rimar num momento
Em que tudo era azul, azul o evento;
Ela brincava, levada no vento,
sorrindo e me amando, no meu pensamento.
Ainda rimei, na ébria esperança,
Ao vê-la crescer, não ser mais criança,
Sorrindo e brincando numa alegre dança;
Tornando-se outra, ficou só lembrança.
A chuva, o vento, de novo tocaram,
Nas pétalas sem viço da luz dos meus olhos
E as pétalas saíram brincando na chuva,
Bailando no vento.
Hoje, tento inutilmente rimar:
Chuva, vento, tristeza e lembranças.
Rilmar - 17.3.89
terça-feira, 2 de janeiro de 2018
Branca de Neve - I
Primeiro Capítulo - BRANCA DE NEVE
Rememorando antigos e lindos contos – Dêem uma passada de
olhos
Espelho ,espelho meu, haverá alguém no mundo mais bonita do
que eu?
Era uma rainha muito bonita, sensual, perfumada, alinhando
os cabelos, conferindo os dentes recém escovados, e fazendo beicinho enquanto
dava uns retoques no batom.
O espelho olhou... olhou, refletiu incontáveis raios de luz
de diferentes comprimentos de onda vindos da apetitosa rainha, depois meditou e
refletiu longamente (agora reflexão mental).
Hum!.... Pensou o polidíssimo e ovalado segmento de cristal.
Era um espelho do mais fino cristal, ovalado, perfeito em sua superfície e
adornado em suas bordas por uma moldura de couro esmeradamente tratado e fina e
artisticamente trabalhado com flores a arabescos de cuja criação e execução
participaram artífices do mais alto nível, artistas os mais refinados e
inspirados.
O espelho olhava, sem ser percebido no conteúdo de seu
olhar. Olhava a bela rainha, a mulher maravilhosa postada à sua frente, como se
cumprisse a sua modesta e repetitiva
função de espelhar, de refletir fielmente a imagem dela mas, longe disso, o
pobre espelho a devorava com os olhos.
Tão afeito estava a ela, a bela madona que todos os dias,
várias vezes por dia; nos mais variados momentos; nas mais diversas condições
vinha se postar diante dele sem desconfiar que cada imagem dela projetada no
interior dele; ali ficava para sempre retida num mecanismo de memória sensorial
ou imunológica leucocitária que ainda hoje não compreendemos bem.
Espelho, espelho meu... haverá alguém no mundo mais bonita
do que eu?... Insistia a rainha.
Às vezes a pergunta
era feita por uma rainha toda produzida, com echarpe verde-musgo no pescoço, um
vestido encantador e um casaco que destacava a beleza dela e do conjunto. E o
espelho prontamente dizia: Não!.... Não há nem nunca haverá.
Como a sala de toalete ficava no quarto quase como uma
extensão do banheiro; havia as vezes em que ela vinha apenas com uma felpuda e
bela toalha envolvendo parcialmente o corpo escultural e de pele maravilhosa. O
espelho quase perdia a voz ao ter que responder à pergunta de sempre. Porém
respondia sem ter nunca que mentir: Não há e nunca haverá!...
Enquanto isso... Não muito distante dali... Na floresta
negra... Morando escondida entre respeitosos e simpáticos anões, vivia Branca
de Neve que ia pouco a pouco deixando de ser criança e já era agora uma
adolescente vivaz, lépida, formosa, louçã, com o mais encantador sorriso sempre
presente nos lábios, os dentes tão brancos que chegavam a ser luminosos, a face
de um rubor tão belo e juvenil que poderia se rivalizar com as mais belas
romãs, com os lábios castos e atrevidos; róseos úmidos e inocentes.
Nenhuma beleza é tão bela quanto a beleza que se desperta,
quanto uma beleza que todo dia é mais bela. Quanto um conjunto maravilhoso que
se aprimora a cada instante, continua se aprimorando incessantemente mesmo no
momento em que está sendo analisado, comparado ou julgado.
Espelho, espelho meu, haverá alguém no mundo mais bonita do
que eu?...
O pobre espelho nunca tinha visto Branca de Neve mas
pressentia, sabia por uma propriedade do mundo das imagens, que Branca de Neve
estava vindo com tudo: encantadora, juvenil, meiga, inocente, correndo pela
floresta, comendo frutos silvestres e sem agrotóxico, bebendo a mais pura água
das nascentes, se banhando ao sol, dormindo do pôr ao nascer do astro rei,
respirando o mais puro ar, vivendo entre amigos e em contato com o frescor e os sons da
natureza.
Branca de neve tinha todos os atributos do DNA da família, e
portanto sangue azul, pele alva, traços sutis e bem delineados, gestos
delicados e encantadores, lábios rosados
e mais, e mais... Branca de Neve tinha tudo o mais que a natureza acrescenta
aos seres que mantem com ela um contato saudável e longo.
O pobre espelho não sabia mentir. Balbuciou gaguejando numa
última tentativa de não desagradar sua dona, sua musa.
Si.... si... sim...! No bosque, isto é na Floresta Negra há
uma petiz que desabrocha e está prestes... ou melhor que já ocuparia hoje o
pódium da beleza aqui de nossa região.
Talvez por uns meros e insignificantes pontos. Não no meu coração!...
Mas para o mundo sim!....
A rainha enfurecida, nem ouviu a frase: não no meu coração.
Arremessou o pobre do espelho contra a parede que era de pedra polida e o
espelho se fragmentou em incontáveis cacos que repetiam sem parar: sim, sim,
sim... exasperando ainda mais a rainha.
Enfurecida e enlouquecida a rainha partiu para a floresta em
busca de Branca de Neve para eliminá-la e, possivelmente apagar todos os
vestígios do crime. Nem eliminou a branquela, nem os vestígios pois o caso se tornou público e
até hoje todo mundo sabe da história. Menos este autor que não lembra muito bem
o final... Sei apenas que teve sete anos de azar. Deculpem!. (kz...kz...kz...) (Brincando.... vai ter segunda parte).
21 de julho de 2015
- Rilmar
BRANCA DE NEVE - segundo capítulo
Lindas Histórias Recontadas
BRANCA DE NEVE - II
Em verdade,
em verdade vos digo: A rainha
enfurecida tentou estilhaçar o espelho que , sendo mágico, satisfez-lhe
o primeiro ímpeto no intento de
acalmá-la; de conduzi-la a se recompor, a recuperar a razão.
A miríade de
fragmentos não aconteceu realmente, não mais foi que uma ilusão para chocar a
rainha e refazê-la em seu psicológico.
Recobrada a
dita razão, logo veio um profundo arrependimento pela perda do amigo, do fã
ardoroso, do incentivador perene. O pranto quase veio aos olhos da bela rainha.
Quis de volta o conselheiro, o mais famoso espelho de todos os tempos em todo o
mundo. O espelho então, mágico que era, voltou a brilhar no seu lugar de sempre
refletindo as imagens, ora recatadas, ora adornadas apenas pela toalha que
deslizando pelo corpo deixava à mostra, por partes, uma nudez que nunca era
total, mas que com memória e imaginação acabava, como num quebra cabeças, compondo-se
e revelando o todo. Paciente e atento, ia cada vez mais colhendo imagens e se
escravizando naquele amor algo platônico e, a um só tempo, real.
Enfim, ali
estava o espelho. Aqui estava a rainha e, num bosque não muito longe dali
estava Branca de Neve, leve e solta, inculta e bela como a última flor do lácio.
Espelho, espelho meu, onde é mesmo que mora essa
ninfeta tão maravilhosa?
Na Floresta
Negra minha rainha. Habita a morada de uns anõezinhos mineradores que lhe deram
guarida naquela vez em um caçador deveria tê-la eliminado mas não, condoeu-se
da frágil criança e a deixou ir-se floresta a dentro, tendo quase a certeza de
que ela não sobreviveria aos rigores e perigos da floresta.
- E o
coração que comi pensando ser o dela, será possível tão torpe farsa?
- Era de um
cervo (termo politicamente correto)
Maldito
caçador, pensou a rainha que mesmo irada e decepcionada, não deixava de ser
linda. Primeiro vou cuidar da branca como a neve, rubra como uma pequena gota
de sangue provocada por uma espetada de agulha e de cabelos negros como o ébano
ou a asa da graúna.
Ainda que
ele habitasse além muito além daquela serra que ainda azula no horizonte, num
lugar tão distante que até o pensamento levasse algum tempo para atingir; ainda
assim eu a alcançaria. Morando logo ali, na floresta Negra; não tardarei em
tê-la ao alcance das mão e de minha capacidade de envolve-la.
Se bem
pensou, melhor tratou de fazer.
Disfarçada
de bondosa velhinha que andava pela floresta espalhando bondades populísticas,
nossa encantadora rainha acabou por chegar na
casinha dos 7 anões, ou seja de Branca de Neve. Como quase ninguém
usasse andar por aquelas plagas, tão logo se aproximou, Branca de Neve apareceu na janela, ainda um
pouco despenteada já que mal acabara de levantar-se, e assim não estava com a
beleza em todo o seu fulgor.
Hum...
Pensou a rainha. Essa aí é que é a tal de mais bela que eu?
Uma pequena dúvida perpassou seu cérebro.
Bem, mas eu
vim aqui para fazer julgamentos ou para eliminar o inimigo?... Perguntou-se num
balbucio.
Cumprimentou
gentilmente, fez um gracejo, um elogio; foi ganhando a confiança da boboca da
Branca de Neve, até que lhe ofereceu um
belíssimo pente, digno daqueles cabelos negros, brilhantes e sedosos.
Despediu-se e foi embora.
Mal cerrou a janela e já Branca de Neve, em
sua vaidade pueril, intentou pentear-se. O pente era envenenado, talvez fosse
curare o poderoso veneno usado em zarabatanas de caçadores de macacos; o fato,
é que tão logo tentou pentear-se e já caiu inerte sobre alguma coisa macia que
evitou uma concussão ou alguma fratura. Tudo indica que a capacidade de respirar
ficou preservada pois, ao fim da tarde, quando os anões ali chegaram a
encontraram caída e, logo que tiraram o tal pente de seus cabelos, ela já
começou a melhorar e algum tempo depois já restabelecida, contou tudo a eles
que então recomendaram ter todo cuidado com estranhos, não convidar para entrar e nem aceitar
presentes.
Contam que a
rainha fez várias e ardilosas tentativas mais, com o mesmo intento: eliminar a
concorrência.
Numa última
e desesperada tentativa, talvez inspirada na história do paraíso, valeu-se de
uma maçã envenenada e de uma lábia sibilina e sub-reptícia.
Envolveu
completamente Branca de Neve com belos adjetivos, com verbos e advérbios bem
colocados, com interjeições convincentes, com um substantivo atraente e fatal:
uma maçã vermelho-dourada, irresistível e cuidadosamente envenenada.
Para ganhar
completamente a confiança da púbere criatura, partiu a suculenta maçã ao meio e
começou a comer uma metade, oferecendo a outra metade à inocente Branca que,
com as glândulas salivares inundando-lhe a boca, não ofereceu qualquer
resistência. Tomou a sua metade, até com certa voracidade e mordeu um grande
naco.
Caiu, dessa vez, como morta.
A rainha zarpou-se e foi novamente conversar
com o espelho que a encheu de certezas e elogios.
Chegando em
casa, após extenuante dia de trabalho, os anões desesperaram-se e tentaram de
tudo para trazer de volta à vida a mais linda criatura que já tinham visto.
Depois de
vários e inúteis esforços, ventilando com um abanador, usando os mais poderosos e modernos
aromatizantes, aspergindo-lhe o rosto com agua fria, chamando-a pelo nome,
mandando que piscasse etc etc. Deram-se por vencidos. No entanto perceberam que
sua beleza se mantinha, havia uma perfusão adivinhada, uma insuspeitada
oxigenação ainda que mínima.
Não tiveram
coragem de enterrá-la com tão bela aparência, com tanta beleza preservada.
- Vamos
conservá-la numa redoma de cristal no alto daquela colina, cercada de um jardim
de lírios e rosas.
E assim fizeram.
O pior não
aconteceu, porque logo apareceu um príncipe o qual, vendo tão bela criatura naquela redoma, pediu
que lhe a dessem para que a tivesse conservada em seu palácio com todo cuidado.
Os anões
anuíram. Não sem antes promoverem um rápido conciliábulo entre eles mesmos.
No trajeto
para o palácio, no caminho tinha uma pedra, uma providencial pedra no caminho
provocou tão rude bacada que o corpo foi sacudido e um pedaço de maçã que se
alojara na garganta de B. Neve, foi
expelido e com as vias aéreas totalmente livres e também livre da ação do
veneno, Branca de Neve recobrou a vida.
Totalmente
apaixonado e, tendo lhe salvo a vida; o
príncipe propôs casamento a Branca de Neve que aceitou emocionada.
O casamento
deu-se tempos depois, com uma festa tão linda e grandiosa que ficou na história
para sempre. Compareceu à festa, após a cerimônia religiosa, luterana ou
católica, não está claro; gentes de toda a redondeza: os anões, o caçador que não
matou, serviçais, o velho rei pai de Branca e a Rainha que assistiu
comportadamente o matrimônio, despediu-se cumprimentando os noivos polidamente
e se retirou denotando visível depressão e, por isso corre o boato de tenha se
lançado em um precipício em busca da morte.
Esse autor, de coração compreensivo, valorizador de mulheres pós trinta,
pós quarenta... pós 50, pós n...; acha que a família acabou por se
entender, houve um perdão abrangente e
geral dos personagens (acordão) e todos viveram felizes para sempre.
15\03\2017 - Rilmar
segunda-feira, 1 de janeiro de 2018
Da Vida a Vida Vi
- Rilmar José Gomes compartilhou a própria publicação.Gostei tanto desta imagem que resolvi compartilhar. O Colégio das Freiras. Imponente, sacrossanto, misterioso, instigante. Instigava nossas imaginações por seu conteúdo de cultura e arte, pelos modos recatados das Irmãs, pelo silêncio e, sobretudo por ser frequentado e habitado por uma plêiade das belas, gentis, educadas e angelicais adolescentes de Ipameri e de uma vasta região de cidades próxima... Ver mais
- Dr. David Cosac, médico, ex Prefeito de Ipameri.
Foto gentilmente cedida por Nando Cosac.
TEXTO SOBRE DAVID COSAC:
"Da Vida a Vida Vi - Dia do Médico
Merece um busto em praça pública em Ipameri.
Sob esse título, que soa para mim como Davi, Davi, Davi; falo um pouco desse grande ipamerino que, assim como alguns outros, deveria ter um busto erigido em praça pública.
Talvez, Ipameri devesse ter uma praça dos grandes vultos e, nas escolas, um dia por ano, fosse dedicado todo o tempo de uma ou duas aulas para se falar nos grandes vultos ipamerinos.
Minha percepção do Dr. David Cosac, é a percepção do povo, do menino que eu era quando em 1947 foi eleito prefeito de Ipameri. Estava sendo eleito um jovem médico que fizera seu curso no Rio de Janeiro onde permanecera fazendo estágios e se especializando por mais dois anos.
Inteligentíssimo, entusiasmado, com uma grande capacidade de trabalho; esplêndida formação médica que aliada à inteligência, coragem, à capacidade de decisão e ao inconformismo com as limitações técnicas encontradas na cidade para o pleno exercício da prática médica em Ipameri; fez com se tornasse, a meu ver, o grande agente para mudanças e para o estabelecimento de condições que tornaram Ipameri um centro de referência e acolhimento para tratamento, do povo de Ipameri e de uma vasta região cujo raio talvez ultrapassasse duzentos quilômetros.
Em um tempo em que a saúde não era direito do povo, não existiam planos de saúde nem SUS ou qualquer outra via de acesso a um tratamento hospitalar para quem não podia pagar; a criação de um grande hospital, bem equipado, com equipe médica competente e com sentido de equipe; e, além disso, um Hospital que na origem já era uma Associação Benemérita, um Hospital do povo e para o povo.
A pessoa que concebeu, liderou uma equipe de valorosos cidadãos, mobilizou o povo, peregrinou em busca de verbas, fez parte de todas as etapas do planejamento e da construção e, depois se dedicou de corpo e alma trabalhando como médico generalista cujo campo de atuação abrangia todas as áreas da medicina que iam desde a pediatria, passava pela cirurgia, ginecologia e obstetrícia, psiquiatria, trauma e ortopedia.
A pessoa que foi atrás de colegas usando sua imensa capacidade de convencimento para trazê-los para Ipameri; a pessoa que administrou o hospital cuidando para que tudo fosse bem feito, para que não faltassem material, remédios, lençóis, material de limpeza, instrumentos etc.
Essa pessoa não trabalhou sozinha. Aglutinou esforços. Liderou grandes inteligências, grandes capacidades. Catalizou Esforços. Direcionou ações para a conclusão de um objetivo. Formou um corpo de auxiliares, para o que chegou a mandar enfermeira fazer capacitação no Rio de Janeiro.
Para que não houvesse nenhuma possibilidade de que aquela obra não fosse inteiramente de toda a comunidade; ele, toda a equipe, todo o grupo de idealizadores criaram-na como entidade benemérita: Associação de Amparo à Maternidade e à Infância de Ipameri.
Tive algumas oportunidades de conhecer esse homem um pouco mais de perto. Uma delas era quando eu trabalhava na Tipografia Minerva e o jornal A Folha do Povo era impresso lá. Quase sempre ele ia lá comentar uma matéria ou a colocação de um clichê na matéria que ia ser publicada naquela semana e, assim, eu tinha oportunidade de ouvi-lo argumentar com grande clareza, brilhantismo e de modo às vezes combativo mas, no mais das vezes, alegre e camarada.
Depois, tive oportunidade de trabalhar por algum tempo na residência dele, onde eu auxiliava nos serviços gerais e tinha a função de buscar um galão de leite em uma chácara do Santinoni nas proximidades da cidade. Nessa época eu, certa vez, precisei de uma consulta médica e ele me atendeu com muita cortesia e eficiência. A residência dava fundos para o Hospital e ele, mal almoçava e já estava indo para o hospital. Era incansável.
Muitos anos depois, depois de muitas voltas do mundo e da vida, tive oportunidade de trabalhar com o agora meu colega David Cosac. Se eu já o admirava conhecendo-o de longe, quando trabalhamos juntos, pude testemunhar o idealista, o denodado, o desprendido, o grande colega que me acolheu, me orientou, confiou em mim, fez de tudo para manter uma equipe coesa no Hospital Maternidade de Jaraguá, que foi onde trabalhamos juntos. Quanto mais o conhecia , mais eu me reportava à Ipameri e entendia quem foi aquele grande médico e benfeitor que tinha opositores mas a cidade toda o via como um grande médico e a maioria da população o adorava.
Não vejo como não erigir um busto em praça pública para tão grande homem, tão notória figura humana. Com você amigo, colega, ipamerino que me orgulha: Da Vida a Vida Vi. Minha gratidão e admiração
Rilmar - 18.10.2009 – DIA DO MÉDICO'
Dr. Rilmar é médico formado pela UNB e criado, com orgulho, em Ipameri. Escritor, contribui com o Brasil Acadêmico como cronista. Entre outros projetos, resgata a memória da cidade que se mistura com as memórias de sua juventude. Editor do Brasil Acadêmico'
Fonte: http://minimal-war.blogspot.com.br/2009/10/da-vida-vida-vi-dia-do-medico.html
Estação Nova
Ainda bem que conservaram você Estação Nova.
Quantas lembranças dos trens de carga e as carroças carreando sacos e mais sacos de cereais vindos nos grandes vagões, e as charretes trazendo gente que ia viajar e disputando os que chegavam no Trem de Passageiros, com suas grandes malas e o cansaço da viagem. Da maria fumaça chegando badalando um sino, apitando alto, e fazendo barulho de mil panelas de pressão.
Pilhas de lenha na beira dos trilhos e a grande caixa d'água onde o trem se abastecia. Tempos depois já era a máquina a diesel mas ainda a vapor. Depois o progresso trouxe a locomotiva de motor a diesel. Mas continuava sendo o trem que chegando movimentava a cidade. Trem de passageiros, sempre cheio de novidades, de moças bonitas, de senhoras elegantes, de gente simples, de pessoas que desciam e ficavam; de outros que seguiam viagem; de pessoas que embarcavam e iam em direção a Goiânia ou a Araguari e de lá seguiriam mundo afora. Ficar ali olhando o movimento, as novidades já era uma coisa agradável, divertida, boa. Um dia eu também parti e, depois de algumas voltas, aconteceu de eu voltar por outros caminhos e quando tornei a procurá-la, Estação Nova, só você jazia onde eu a deixei.. O Trem, as gentes, o burburinho das pessoas chegando e partindo, dando boas vindas ou se despedindo: tudo tinha partido, tudo se despedaçara nas mudanças impiedosas, nos planejamentos sem alma. Alguém se sensibilizou, esforços aglutinados conservaram, ao menos, você. Aí está você com seu amarelo ocre, seus detalhes brancos , seu telhado de um marrom avermelhado de planos inclinados e a pujante inscrição IPAMERI. - Um século de histórias, de lembranças de alegrias e saudades.
Minha MÃE - (Nossa Senhora na beira do rio....)
Rilmar
Nossa
Senhora na beira do rio.
Lavava os
paninhos de seu bento fio...
Eu bem
quisera escrever em trovas, mas não as consigo criar dignas destas memórias...
E falo a
você, Mãe, com a firme lembrança da sua imagem naquelas tardes ensolaradas quando
você, que durante toda a semana lecionara o dia todo e parte da noite para
alunos de ambos os sexos, de todas idades, das mais variadas classes sociais e
de comportamentos os mais diversos e imprevisíveis; mas que a sua paciência
imensa, o seu amor ilimitado, a sua alegria que se espargia e contagiava a
todos; envolviam, compreendiam, harmonizavam, disciplinavam e conseguiam
conduzi-los paulatinamente em direção à luz do saber.
Naquelas tardes
ensolaradas você, inesgotável e bela, ainda tinha missões para o fim de semana.
Como a vejo
nítida destacando-se nestas imagens que me vêm à mente.
Seu português tão
correto, sua letra de lindíssimo talhe, suas frases tão plenas de saber, de
compreensão, de poesia, elegantes e delicadas. E as inesquecíveis lições de
humildade que nos dava, indo, ao final da semana, alegremente até, levando-nos
para o córrego como se fôssemos passear, quando, na verdade, você ia era lavar
a imensa trouxa de roupas que as nove pessoas da casa usaram durante a semana.
E a
lembrança me traz você como aquela Nossa Senhora da cantiga de ninar:
Nossa
Senhora na beira do rio.
Lavava os
paninhos do seu bento fio.
Ela lavava,
José estendia.
O menino
chorava com o frio que fazia...
Era você
lavando, contando casos repletos de interesses para nós que deitados na água
morna do pequeno regato mantínhamos os olhos e os ouvidos ligados nos seus
gestos e em cada palavra sua no desenrolar da narrativa
Nítida e
iluminada como uma santa, saudosa e amada como as mães podem ser, eis como
minhas lembranças a retratam.
Fim de dia.
Recolhidas as roupas e refeita a trouxa, lá ia você com a imensa mala de roupas
e a fila de filhos a acompanhá-la de volta ao lar.
Mais que a
professora, maior que a diretora, grande como uma luminosa divindade; tranquila,
afagando um ou outro, sorrindo no seu grandioso papel de Mãe!...
Maria como a
mãe do menino Deus, bendita mulher que veio ao mundo para dar amor e espalhar
luz e saber.
Hei de sempre lembrá-la com seu amável sorriso a semear virtudes,
tolerância e amor.
Muito obrigado
minha mãe, minha amiga, meu fanal.
Muito obrigado por ter deixado em mim essas
lembranças que me envaidecem demais e me ensinam muito o respeito de humildade
e altruísmo.
10-05-1979
Rilmar José
Gomes
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