IPAMERI
Um Dia Eu
Volto...
Volto
sim.... e te reconstituo ao jeito, tempo, modos e maneiras como te deixei. Com
as ruas ladeadas por canteiros de gramas, com as sarjetas de pedra. E as
calçadas rústicas, e as casas habitadas por pessoas receptivas, simpáticas e
conhecidas. Alguns cachorros nas ruas. Bares, farmácias, armazéns, padarias e
açougues tudo colocado em pontos sabidos e conhecidos. Horários de
funcionamento sobejamente sabidos.
Voltando, eu
te refaço.
Reconstruo
cada detalhe da cidade que deixei. Também eu me reconstituo e corrijo rumos e
caminhos que naquela época deixei de percorrer ou o fiz de maneira equivocada e
assim, não cheguei a tempo e a hora onde queria.
Quero minha
cidade do mesmo jeito, quero ser aquele menino que andava pela vida cheio de
sonhos. Porei juízo naquela cabeça para que sonhe só sonhos de ficar, de não ir
embora, de não abrir mão daquele mundo, por nada.
Vou dizer às
pessoas que as quero, que são importantes para mim, que há uma interação
indissolúvel entre cada uma delas e meu viver.
Vou me
declarar aos amores que pretendi e nem sequer cheguei a dizer isso a qualquer
delas. Ficou, pois, esse segredo preso e irrespondido dentro de mim. Seriam
nãos com certeza. Mas teriam que ter sido ditos. Voltando no tempo e no espaço,
eu os direi. Vou me reconciliar com muita gente. Vou pedir desculpas. Vou abrir
o coração.
Quero você
de novo Ipameri. Quero andar em ruas quase sem carros; caminhar em silêncio
chutando pedrinhas ou caroços de mangas; distraído, pensando mil coisas,
ouvindo pessoas me alertarem amistosamente.
Meus quintais imensos indo até o córrego na
rua Goiás.
Quero dormir
ouvindo músicas dos parques de diversões instalados na praça do rosário.
O jardim, as
moças passeando de braços dados, indo e vindo andando
na calçada
da praça. Os sinos chamando para a missa, a Ave-Maria tocada na torre da
Igreja. Católicos e crentes fervorosos recomendando vida reta e comportamentos
cristãos.
A
simplicidade. O barulho dos trens de carga nas madrugadas vindo num crescendo
se aproximando e depois irem se afastando na imensidão da noite até mergulharem
lentamente no silêncio da distância; minha mãe atenta, comovida e nos ensinando
os sentimentos que isso inspirava. O rumor e burburinho dos trens de
passageiros. O ribeirão piscoso, acolhedor, amigo; o Rio do Braço cuja
distância de légua e meia era considerada longe para se ir a pé.
Quero
percorrer minhas escolas; abraçar colegas; trabalhar de novo na Tipografia
Minerva, no Umuarama. E vagar pelos cerrados, pelas beiras de córregos, subir
nas mangueiras frondosas tentando pegar a última e derradeira manga que se
exiba nas grimpas de um pé de manga desafiando a molecada.
Volto sim e
é para ficar e nunca mais te deixar.
Se esse amor
ainda não declarei da maneira devida e no tom tonitroante que meu peito clama;
agora o faço: EU TE AMO IPAMERI!
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