domingo, 29 de agosto de 2010
domingo, 22 de agosto de 2010
Meu pai, perfeito como eu
Há algum tempo, aos noventa e três anos, ele partiu para uma viagem sem volta ao encontro de minha mãe, com destino à eternidade.

Tão agarrado à vida, uma vida que lhe foi tão árdua, tão sofrida, tão cheia de altos e baixos.
Tão frágil, tão submisso, tão entregue; ele que foi na vida fortaleza, disciplina, hombridade, sistemático, liderança e inteligência.
Não morreu nos meus braços como talvez fosse a vontade dele, morreu ao lado de uma minha irmã que lhe deu mais amor do que qualquer um de seus filhos que são muitos. Findou-se como uma chama que vai se enfraquecendo lentamente através dos anos derradeiros até que, em certo momento, bruxuleia, treme, perde lentamente o restinho de fulgor e finalmente se extingue e parte na direção do infinito.
Ao seu lado estava ela, a filha que mais sofreu sua perda, a que deixava tudo para acudi-lo, para assisti-lo com infinita paciência, dedicação e eficiência. Foi talvez por isso que Deus a escolheu para o angustiante momento do desenlace.
Só Deus sabe o porquê de suas decisões!
Não podendo medir seus temores, seus horrores, suas fraquezas ou sua fortaleza; não posso analisá-lo, pai, sem ser injusto e impreciso.
Para mim você sempre foi e será um forte; um esteio de minha existência. Um pai enérgico, capaz de corrigir e até ser injusto, mas que sempre me norteou e, com maior ou menor punição era o muro onde meus erros esbarravam e se desfaziam. Acertadas as contas com você, eu estava certo com o mundo. Você cuidava de minha vida.
Você foi estruturado num mundo de ascetas. De muito fazer, pouco ter, obediência silente e respeitosa, de achar tudo justo.
O rigor com que a vida o tratou, as asperezas de seus caminhos, os intransponíveis obstáculos diante do menino que não podia se desviar nem desistir, não tinham como não marcar-lhe a alma profundamente.
O código de ética da sociedade de sua época e do interior de Goiás; as tradições de família que impunham uma hierarquia forte, dura, imutável e vigilante.
O Deus da época que vigiava e punia a todo instante e em qualquer lugar; as assombrações que aterrorizavam; os demônios que cobravam sua parte em qualquer prazer experimentado; tudo oprimia e enrijecia as gentes.
Sua Inteligência invejável devia levá-lo a muitas interpretações de tudo que o cercava; de tudo o que lhe impingiam, mas não havia parâmetros alcançáveis, mundos para serem comparados visto que a comunicação era exígua: nem TV, nem rádio, raríssimos jornais. Nas escolas ainda não se discutia a vida, mas tão somente se decoravam coisas; meio de transporte rudimentar e vagaroso eram o carro de bois, a carroça e o cavalo. Os horizontes eram, assim, muito limitados e de difícil transposição.
Viver do próprio trabalho, embora os adultos não reconhecessem, era desde o momento em que as forças já dessem para fazer alguma coisa e a mente capacitasse a obedecer.
Uma criança de oito anos, ou menos, já trabalhava do nascer ao por do sol.
Punições vinham a toda hora.
Elogios só para o trabalho e a obediência cega.
Opressão para idéias, palpites e criatividade.
O homem tinha que ser macho a toda prova, mas sexo era indecência, pecado, falta de caráter.
Sim, meu pai, esse era o seu mundo com suas regras.
Aos quatorze anos você viajava sozinho montado em um cavalo indo de cidade em cidade levando correspondências, fazendo entregas. Viagens com chuva ou sol, frio ou calor, noites escuras como breu e dias de chuva ou de sol, mas sempre com muito cansaço e grande solidão.
Imagino você num mundo cheio de fantasmas, capetas, onças, lobos, e mesmo pequenos animais que sem serem perigosos surgiam na noite, de repente, causando grandes sustos. O cavalo refugava, o coração dava saltos no peito; a mente chamava desesperada algum santo do céu estrelado; mas o medo era engolido e você seguia em frente, impregnado de cansaço, animado pela vontade de chegar ao pouso, no mais das vezes apenas um rancho sem ninguém dentro e onde barbeiros e morcegos esperavam impacientes.
Mais do que ser forte, corajoso e tenaz; era necessário ser imbatível e ter orgulho do que fazia.
Mais tarde, com menos de vinte anos, você comandava tropas levando bois de Palmeiras a Barretos; setecentos quilômetros, ou mais ; percorridos à cavalo, lidando com gente, disciplinando, administrando e cuidando de tudo para manter o grupo em harmonia e fazer a entrega na data marcada.
Você conseguia porque era exemplo em sua conduta obstinada e rígida, mais consigo mesmo, do que com o restante da tropa.
Depois veio o exército no tempo da ditadura Vargas, onde pátria, hierarquia, disciplina e honra vinham antes de tudo. Pátria era algo concreto que não dependia de se impregnar o indivíduo da necessidade de amá-la. Os outro itens eram pregados, ditos, repetidos e exigidos até que se tornassem parte do pensamento, da conduta, da própria vida.
Então, um dia, surgiu minha mãe com sua doçura, sua beleza, sua meiguice e o encantou. Também ela encantou-se com sua força, seu porte físico, seus olhos azuis. Minha mãe era a ternura, a doçura que precisava de uma mão forte para ampará-la. Você, o homem enrijecido pelo tempo e a vida, precisava da afabilidade e a ternura daquela morena de cabelos negros e ondulados e de sorriso encantador e que além de bela e graciosa, era inteligente e culta.
Dessa união nasceram onze filhos entre homens e mulheres, dos quais nove sobreviveram. Não faço a menor idéia de como seria possível criar tão numerosa prole nos dias de hoje e menos ainda naqueles dias.
Foram muitos os percalços, os momentos felizes e os de dificuldade e até de desespero.
No dia em que minha mãe morreu, o mundo ruiu. Ruiu para mim, para todas as pessoas da casa e ruiu para você. Esse verbo é muito mais suave quando o lemos do que quando o vivemos. Cada um de nós foi destruído social e psiquicamente. Você também foi. Não há como qualquer um de nós aquilatar o quanto essa falta foi capaz de destroçar o coração e a alma de cada um; de infelicitar irremediavelmente pelo resto da existência, cada um de nós; de fragilizar, de deprimir, de desanimar, de desesperar, de desamparar.
Cinqüenta anos se passaram e eu ainda não voltei a ser o mesmo. Não posso, pois, exigir isso de ninguém.
Agora que você partiu, e passado algum tempo, parei para essa reflexão e gostaria de ter-lhe dito muito mais vezes que o amei e amo com o amor do filho que tudo fez para brilhar, para merecer sua admiração e seu orgulho. Depois que vivi e fui intensamente testado pela vida; sofri e vi pessoas sofrerem, ganhei, perdi, tive êxitos e falhas; depois de um amadurecimento ocorrido a duríssimas penas; sou capaz de imaginar o quanto a vida foi dura com você.
Quero guardar de nós dois, na lembrança, os melhores momentos nossos. As pescarias, os casos que você contava de sua vida, os bons momentos de você com minha mãe e nós; as vezes em que eu o visitava na sua casinha, já na sua viuvez, a euforia que vivi ao enviar-lhe o telegrama dizendo que eu passara no vestibular de medicina e o dia em que você foi ao baile de minha formatura numa noite fria na beira do lago do Paranoá.
Talvez Deus exista e conceda-nos um reencontro numa outra dimensão onde com minha mãe e todos nossos entes queridos conheçamos a convivência plena onde o amor se expresse pela alegria irradiada em cada gesto, em cada riso, em cada olhar; pelo prazer de estarmos juntos.
22.08.2010 ---- Rilmar

Tão agarrado à vida, uma vida que lhe foi tão árdua, tão sofrida, tão cheia de altos e baixos.
Tão frágil, tão submisso, tão entregue; ele que foi na vida fortaleza, disciplina, hombridade, sistemático, liderança e inteligência.
Não morreu nos meus braços como talvez fosse a vontade dele, morreu ao lado de uma minha irmã que lhe deu mais amor do que qualquer um de seus filhos que são muitos. Findou-se como uma chama que vai se enfraquecendo lentamente através dos anos derradeiros até que, em certo momento, bruxuleia, treme, perde lentamente o restinho de fulgor e finalmente se extingue e parte na direção do infinito.
Ao seu lado estava ela, a filha que mais sofreu sua perda, a que deixava tudo para acudi-lo, para assisti-lo com infinita paciência, dedicação e eficiência. Foi talvez por isso que Deus a escolheu para o angustiante momento do desenlace.
Só Deus sabe o porquê de suas decisões!
Não podendo medir seus temores, seus horrores, suas fraquezas ou sua fortaleza; não posso analisá-lo, pai, sem ser injusto e impreciso.
Para mim você sempre foi e será um forte; um esteio de minha existência. Um pai enérgico, capaz de corrigir e até ser injusto, mas que sempre me norteou e, com maior ou menor punição era o muro onde meus erros esbarravam e se desfaziam. Acertadas as contas com você, eu estava certo com o mundo. Você cuidava de minha vida.
Você foi estruturado num mundo de ascetas. De muito fazer, pouco ter, obediência silente e respeitosa, de achar tudo justo.
O rigor com que a vida o tratou, as asperezas de seus caminhos, os intransponíveis obstáculos diante do menino que não podia se desviar nem desistir, não tinham como não marcar-lhe a alma profundamente.
O código de ética da sociedade de sua época e do interior de Goiás; as tradições de família que impunham uma hierarquia forte, dura, imutável e vigilante.
O Deus da época que vigiava e punia a todo instante e em qualquer lugar; as assombrações que aterrorizavam; os demônios que cobravam sua parte em qualquer prazer experimentado; tudo oprimia e enrijecia as gentes.
Sua Inteligência invejável devia levá-lo a muitas interpretações de tudo que o cercava; de tudo o que lhe impingiam, mas não havia parâmetros alcançáveis, mundos para serem comparados visto que a comunicação era exígua: nem TV, nem rádio, raríssimos jornais. Nas escolas ainda não se discutia a vida, mas tão somente se decoravam coisas; meio de transporte rudimentar e vagaroso eram o carro de bois, a carroça e o cavalo. Os horizontes eram, assim, muito limitados e de difícil transposição.
Viver do próprio trabalho, embora os adultos não reconhecessem, era desde o momento em que as forças já dessem para fazer alguma coisa e a mente capacitasse a obedecer.
Uma criança de oito anos, ou menos, já trabalhava do nascer ao por do sol.
Punições vinham a toda hora.
Elogios só para o trabalho e a obediência cega.
Opressão para idéias, palpites e criatividade.
O homem tinha que ser macho a toda prova, mas sexo era indecência, pecado, falta de caráter.
Sim, meu pai, esse era o seu mundo com suas regras.
Aos quatorze anos você viajava sozinho montado em um cavalo indo de cidade em cidade levando correspondências, fazendo entregas. Viagens com chuva ou sol, frio ou calor, noites escuras como breu e dias de chuva ou de sol, mas sempre com muito cansaço e grande solidão.
Imagino você num mundo cheio de fantasmas, capetas, onças, lobos, e mesmo pequenos animais que sem serem perigosos surgiam na noite, de repente, causando grandes sustos. O cavalo refugava, o coração dava saltos no peito; a mente chamava desesperada algum santo do céu estrelado; mas o medo era engolido e você seguia em frente, impregnado de cansaço, animado pela vontade de chegar ao pouso, no mais das vezes apenas um rancho sem ninguém dentro e onde barbeiros e morcegos esperavam impacientes.
Mais do que ser forte, corajoso e tenaz; era necessário ser imbatível e ter orgulho do que fazia.
Mais tarde, com menos de vinte anos, você comandava tropas levando bois de Palmeiras a Barretos; setecentos quilômetros, ou mais ; percorridos à cavalo, lidando com gente, disciplinando, administrando e cuidando de tudo para manter o grupo em harmonia e fazer a entrega na data marcada.
Você conseguia porque era exemplo em sua conduta obstinada e rígida, mais consigo mesmo, do que com o restante da tropa.
Depois veio o exército no tempo da ditadura Vargas, onde pátria, hierarquia, disciplina e honra vinham antes de tudo. Pátria era algo concreto que não dependia de se impregnar o indivíduo da necessidade de amá-la. Os outro itens eram pregados, ditos, repetidos e exigidos até que se tornassem parte do pensamento, da conduta, da própria vida.
Então, um dia, surgiu minha mãe com sua doçura, sua beleza, sua meiguice e o encantou. Também ela encantou-se com sua força, seu porte físico, seus olhos azuis. Minha mãe era a ternura, a doçura que precisava de uma mão forte para ampará-la. Você, o homem enrijecido pelo tempo e a vida, precisava da afabilidade e a ternura daquela morena de cabelos negros e ondulados e de sorriso encantador e que além de bela e graciosa, era inteligente e culta.
Dessa união nasceram onze filhos entre homens e mulheres, dos quais nove sobreviveram. Não faço a menor idéia de como seria possível criar tão numerosa prole nos dias de hoje e menos ainda naqueles dias.
Foram muitos os percalços, os momentos felizes e os de dificuldade e até de desespero.
No dia em que minha mãe morreu, o mundo ruiu. Ruiu para mim, para todas as pessoas da casa e ruiu para você. Esse verbo é muito mais suave quando o lemos do que quando o vivemos. Cada um de nós foi destruído social e psiquicamente. Você também foi. Não há como qualquer um de nós aquilatar o quanto essa falta foi capaz de destroçar o coração e a alma de cada um; de infelicitar irremediavelmente pelo resto da existência, cada um de nós; de fragilizar, de deprimir, de desanimar, de desesperar, de desamparar.
Cinqüenta anos se passaram e eu ainda não voltei a ser o mesmo. Não posso, pois, exigir isso de ninguém.
Agora que você partiu, e passado algum tempo, parei para essa reflexão e gostaria de ter-lhe dito muito mais vezes que o amei e amo com o amor do filho que tudo fez para brilhar, para merecer sua admiração e seu orgulho. Depois que vivi e fui intensamente testado pela vida; sofri e vi pessoas sofrerem, ganhei, perdi, tive êxitos e falhas; depois de um amadurecimento ocorrido a duríssimas penas; sou capaz de imaginar o quanto a vida foi dura com você.
Quero guardar de nós dois, na lembrança, os melhores momentos nossos. As pescarias, os casos que você contava de sua vida, os bons momentos de você com minha mãe e nós; as vezes em que eu o visitava na sua casinha, já na sua viuvez, a euforia que vivi ao enviar-lhe o telegrama dizendo que eu passara no vestibular de medicina e o dia em que você foi ao baile de minha formatura numa noite fria na beira do lago do Paranoá.
Talvez Deus exista e conceda-nos um reencontro numa outra dimensão onde com minha mãe e todos nossos entes queridos conheçamos a convivência plena onde o amor se expresse pela alegria irradiada em cada gesto, em cada riso, em cada olhar; pelo prazer de estarmos juntos.
22.08.2010 ---- Rilmar
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Um Lobisomem na Noite
Um lobisomem pode ter coisas a nos ensinar
Em noite chuvosa, barulhenta, tempestuosa eu ouvi por entre os estrondos dos trovões e o ruflar pesado da chuva forte, uns barulhos diferentes de tropeços e lamúria, como que vindo do meu quintal escuro e ensopado. Então, destramelei a porta da cozinha que se abriu por si mesma com a força do vento, o qual entrou forte, frio e molhado e, num instante, encharcou minha roupa e meus sapatos.
Meio encolhido, meio com medo e tentando enxergar aproveitando os clarões momentâneos dos relâmpagos, avancei cuidadoso pelo quintal.
Avançara já uns cem metros quando deparei com um vulto encolhido que grunhia e tremia entanguido de frio.
Era um pobre Lobisomem, marginalizado, enregelado e talvez doente!
Ali estava ele, lendário, concreto, real, carente e muito sofrido.Olhei-o, a princípio, transido de horror, mas, logo a seguir, ao perceber sua humílima atitude e a expressão humana de seu rosto; enchi-me de pena e num rompante de solidariedade arrisquei-me a convidá-lo com um gesto para que me seguisse.
Já em casa, atirei-lhe uma grossa toalha, cobertores, e ele se encolheu perto do fogo e logo adormeceu. Meio confuso, fechei por cuidado a porta que separava a cozinha do resto da casa e fui para o meu quarto. Já deitado, fiquei por longas horas pensando naquele pobre ser que na minha infância povoara, como outros, minha imaginação. E que era tão temível, tão poderoso, assustador e, agora, concreto como
eu ou a minha cama, ali estava acocorado no rabo do fogão encolhido trêmulo e cansado.
Que andariam fazendo os lobisomens, os currupiras e tantos outros seres que outrora, antes da bomba atômica, do Sky Lab, da poluição, da ameaça de falta de alimentos e de tantos terrores reais e modernos assustavam os homens e faziam as crianças rezarem e ficarem quietas para dormir?
Entre meditações, cochilos, sobressaltos e, por fim, sono profundo atravessei a noite. Na manhã seguinte despertei cheio de planos brilhantes para ajudar o lobisomem.
Paciente e submisso ele suportou cada procedimento, cada engano, cada sugestão minha e foi sendo remodelado gradativamente para adaptar-se ao mundo dos homens.
Tricotomia total, geral e irrestrita, extrações dentárias, plástica das orelhas etc.,etc.
Finalmente conseguiu-se desorrorizar a aparência do Lobisomem e dentro de um grosso macacão de brim, sapatos e luvas o liberei para que saísse pelas ruas e travasse contato com o povo.
Conseguimos ajeitar o mínimo indispensável de documentos, demos a ele um nome bem simples, bem simpático e o deixamos ir.
E lá se foi o João!
No fim do primeiro dia ele voltou e contou que não conseguira ser aceito nem em um grupo de vadios que se reunia em uma esquina. No segundo dia idem... No terceiro, no quarto, no quinto, tudo a mesma coisa!
Depois de quase um mês parece que as pessoas foram se acostumando com o seu jeitão e passaram a mexer com ele chamando-o de Corcunda de Notre Dame e, quando descobriram seu nome, imediatamente o apelidaram de João Garante; mas ele não se importou e até deu mostras de estar gostando. Muito forte, paciente, necessitado de amizade tudo isso foi fazendo com que os grupos de braçais o fossem acolhendo paulatinamente até que, finalmente, ele chegou em casa contando que havia conseguido emprego. Eu e mais um grupo de amigos empenhados na experiência, consideramos aquilo um enorme êxito e demos um hurra de puro entusiasmo.
E o Lobisomem com o nome de homem foi dormir muito contente.
Aceito no nosso mundo ele esteve sumido de nosso bairro um bocado de tempo. Tempo em que com força descomunal, dedicação, entusiasmo e esforço incansável enfrentou todo tipo de serviço disponível.
Em breve notou que do seu trabalho não advinha mais que mirrado sustento com sacrifício de quase totalidade de suas horas de vigília.
Entretanto pensou, com certeza estamos construindo uma sociedade tal que, após este período de sacrifícios, passaremos a gozar de tudo o que edificamos.
Com o tempo descobriu que o que lhe tocava era a penas aquele sustento.
Meditou muito... E ficou triste!
Meditou mais e teve raiva!
E tendo raiva gritou tentando despertar os homens com suas verdades!
Uns estranharam... Outros ouviram... Alguns apoiaram... Mas, ninguém tinha verdades para gritar e num marasmo homogêneo voltaram ao trabalho.
Como seu grito não teve repercussão, ninguém o incomodou e assim pôde continuar andando despercebido pelo nosso mundo. E observando... E meditando...
Viu guerras onde os homens despejavam o fogo que não se apaga sobre seus semelhantes e ao mesmo tempo pregavam a mansidão, abondade, a piedade.
Viu navios de refugiados perambulando pelos mares e a piedade cristã , budista, maometana etc, etc, não saber como acolhê-los.
Sentiu os nosso pavores, conviveu com nossas tristezas, partilhou de nossas alegrias, comeu em nossas mesas mais pobres e aspirou a fragrância das mais fartas, apiedou-se de nossa piedade, procurou vislumbrar os nossos horizontes e os notou obscuros.
E concluiu: _ O HOMEM É MUITO INFELIZ!
Talvez reste-lhe avançarpelo universo e em mundos novos tentar modelos novos de vida.
Sem poder contribuir para modificar nosso mundo, uma última vez nos procurou e mais sofrido do que na noite da chuva, fez um relato sucinto e nos comunicou que iria bstratificar-se e, em outra dimensão, continuaria sua vida, longe dos horrores desse mundo.
E, mudos de espanto, o vimos passar desta para outra dimensão,desaparecendo ali na nossa frente.
Anápolis, 25.11.79
Em noite chuvosa, barulhenta, tempestuosa eu ouvi por entre os estrondos dos trovões e o ruflar pesado da chuva forte, uns barulhos diferentes de tropeços e lamúria, como que vindo do meu quintal escuro e ensopado. Então, destramelei a porta da cozinha que se abriu por si mesma com a força do vento, o qual entrou forte, frio e molhado e, num instante, encharcou minha roupa e meus sapatos.
Meio encolhido, meio com medo e tentando enxergar aproveitando os clarões momentâneos dos relâmpagos, avancei cuidadoso pelo quintal.
Avançara já uns cem metros quando deparei com um vulto encolhido que grunhia e tremia entanguido de frio.
Era um pobre Lobisomem, marginalizado, enregelado e talvez doente!
Ali estava ele, lendário, concreto, real, carente e muito sofrido.Olhei-o, a princípio, transido de horror, mas, logo a seguir, ao perceber sua humílima atitude e a expressão humana de seu rosto; enchi-me de pena e num rompante de solidariedade arrisquei-me a convidá-lo com um gesto para que me seguisse.
Já em casa, atirei-lhe uma grossa toalha, cobertores, e ele se encolheu perto do fogo e logo adormeceu. Meio confuso, fechei por cuidado a porta que separava a cozinha do resto da casa e fui para o meu quarto. Já deitado, fiquei por longas horas pensando naquele pobre ser que na minha infância povoara, como outros, minha imaginação. E que era tão temível, tão poderoso, assustador e, agora, concreto como
eu ou a minha cama, ali estava acocorado no rabo do fogão encolhido trêmulo e cansado.
Que andariam fazendo os lobisomens, os currupiras e tantos outros seres que outrora, antes da bomba atômica, do Sky Lab, da poluição, da ameaça de falta de alimentos e de tantos terrores reais e modernos assustavam os homens e faziam as crianças rezarem e ficarem quietas para dormir?
Entre meditações, cochilos, sobressaltos e, por fim, sono profundo atravessei a noite. Na manhã seguinte despertei cheio de planos brilhantes para ajudar o lobisomem.
Paciente e submisso ele suportou cada procedimento, cada engano, cada sugestão minha e foi sendo remodelado gradativamente para adaptar-se ao mundo dos homens.
Tricotomia total, geral e irrestrita, extrações dentárias, plástica das orelhas etc.,etc.
Finalmente conseguiu-se desorrorizar a aparência do Lobisomem e dentro de um grosso macacão de brim, sapatos e luvas o liberei para que saísse pelas ruas e travasse contato com o povo.
Conseguimos ajeitar o mínimo indispensável de documentos, demos a ele um nome bem simples, bem simpático e o deixamos ir.
E lá se foi o João!
No fim do primeiro dia ele voltou e contou que não conseguira ser aceito nem em um grupo de vadios que se reunia em uma esquina. No segundo dia idem... No terceiro, no quarto, no quinto, tudo a mesma coisa!
Depois de quase um mês parece que as pessoas foram se acostumando com o seu jeitão e passaram a mexer com ele chamando-o de Corcunda de Notre Dame e, quando descobriram seu nome, imediatamente o apelidaram de João Garante; mas ele não se importou e até deu mostras de estar gostando. Muito forte, paciente, necessitado de amizade tudo isso foi fazendo com que os grupos de braçais o fossem acolhendo paulatinamente até que, finalmente, ele chegou em casa contando que havia conseguido emprego. Eu e mais um grupo de amigos empenhados na experiência, consideramos aquilo um enorme êxito e demos um hurra de puro entusiasmo.
E o Lobisomem com o nome de homem foi dormir muito contente.
Aceito no nosso mundo ele esteve sumido de nosso bairro um bocado de tempo. Tempo em que com força descomunal, dedicação, entusiasmo e esforço incansável enfrentou todo tipo de serviço disponível.
Em breve notou que do seu trabalho não advinha mais que mirrado sustento com sacrifício de quase totalidade de suas horas de vigília.
Entretanto pensou, com certeza estamos construindo uma sociedade tal que, após este período de sacrifícios, passaremos a gozar de tudo o que edificamos.
Com o tempo descobriu que o que lhe tocava era a penas aquele sustento.
Meditou muito... E ficou triste!
Meditou mais e teve raiva!
E tendo raiva gritou tentando despertar os homens com suas verdades!
Uns estranharam... Outros ouviram... Alguns apoiaram... Mas, ninguém tinha verdades para gritar e num marasmo homogêneo voltaram ao trabalho.
Como seu grito não teve repercussão, ninguém o incomodou e assim pôde continuar andando despercebido pelo nosso mundo. E observando... E meditando...
Viu guerras onde os homens despejavam o fogo que não se apaga sobre seus semelhantes e ao mesmo tempo pregavam a mansidão, abondade, a piedade.
Viu navios de refugiados perambulando pelos mares e a piedade cristã , budista, maometana etc, etc, não saber como acolhê-los.
Sentiu os nosso pavores, conviveu com nossas tristezas, partilhou de nossas alegrias, comeu em nossas mesas mais pobres e aspirou a fragrância das mais fartas, apiedou-se de nossa piedade, procurou vislumbrar os nossos horizontes e os notou obscuros.
E concluiu: _ O HOMEM É MUITO INFELIZ!
Talvez reste-lhe avançarpelo universo e em mundos novos tentar modelos novos de vida.
Sem poder contribuir para modificar nosso mundo, uma última vez nos procurou e mais sofrido do que na noite da chuva, fez um relato sucinto e nos comunicou que iria bstratificar-se e, em outra dimensão, continuaria sua vida, longe dos horrores desse mundo.
E, mudos de espanto, o vimos passar desta para outra dimensão,desaparecendo ali na nossa frente.
Anápolis, 25.11.79
sexta-feira, 30 de julho de 2010
CORA CORALINA, Aninha, Minerva, Poema
"Agosto,mais um aniversário do nascimento de Cora".
Quem é essa missionária que percorreu esses brasis?...
Que divindade é essa que perpassou os séculos?...
Quem é essa minerva que todos pararam para ouvir?...
Quem é a poetisa capaz de despertar emoções tão grandes em tantas gerações?...
Quem é essa bem amada de todas as camadas sociais?...
É Cora-Coralina, estela mor da poesia goiana.
A expressão mais bela e perfeita da arte do tempo. Sim, nela encontramos o resultado de pacientes e divinas pinceladas dadas uma hoje, outra amanhã, outra um mês, um ano, uma década depois. Arte que o tempo gerou em longuíssima gestação e não poupou meios, matéria, ambientes, nem emoções para a obtenção do sonhado fruto.
Assim, o tempo mesmo quis ser tintas, pincel e cinzel. Para forja, para estufa, para torno usou épocas, pessoas, labores, ambientes e a expôs às mais complexas e variadas emoções.
Ante a possibilidade de que as causas externas projetadas no amálgama incipiente que era ela tivessem efeitos imprevisíveis, o tempo pediu a Deus que a prouvesse de uma alma tal que, mesmo encarnada, transcendesse sempre aos sentimentos humanos. E essa transcendência fazia os sofreres mais sofridos, as dores mais doídas, a solidão mais solitária; intensificava as angústias, engrossava as lágrimas, tornava mais incontidos os soluços. Mas, a mesma transcendência a fazia ir lentamente captando ensinamentos nos fatos, nos erros, nas opressões, nos desprezos. A mesma transcendência a fazia entender, compreender, e, ao invés de acumular mágoas, ter desabrochado, no lugar de cada uma, um embrião de sensibilidade.
Não sei precisar se o tempo, na laboriosa faina de a compor, andou tendo dúvidas, ou se trabalhou sempre seguindo o mesmo plano.
O mais provável é que ela tenha influenciado o processo, condicionando o seu criador, o qual, diante de cada esboço concluído, iniciava o seguinte dentro da inspiração inicial, mas sofrendo naturais influências do que tinha diante de si. –“Não é o poeta que faz a poesia – E, sim, a poesia que condiciona o poeta”.
E pela vida afora o tempo a foi fazendo.
Deu-lhe têmpera no trabalho árduo, nas contradições, nas incompreensões, nos sofrimentos vários.
Burilou-a na escola primária da mestra inesquecível, no gosto pela leitura, nas convivências, nas tantas vivências.
Preparou-a. Aguçou-lhe a sensibilidade. Aprimorou-lhe as faculdades intelectuais...
Na atmosfera da Capital Velha, berço da cultura de Goiás, deixou-a exposta longos e importantes anos para que reunisse em si, os elementos que lhe facultassem extrair de outras vivências, das andanças, das viagens, das novas moradas; ensinamentos, beleza, poesia e também a capacitassem, a, em qualquer lugar ou circunstância, ser incansável e produtiva.
Como seu criador inspirava-se na Aninha de hoje para criar a Cora de amanhã, ela nunca atingiu o estágio final. Todo o dia o tempo a fazia uma nova Cora Coralina.
E, do burilar contínuo, dos retoques do pincel, do constante recriar é que tivemos a menina inzoneira, chorona, sabida demais; a moça bonita, metamorfose da menina feia; a doceira; a mulher decidida, trabalhadeira, criativa e finalmente, para que vislumbrássemos um pouco de seu incalculável conteúdo, para que a compreendêssemos mesmo sem sermos capazes de segui-la em seu constante aperfeiçoamento; a revelou na poesia.
E a poetisa surgiu com toda a força de um saber acumulado desde o século passado, com o prodígio de uma memória capaz de lembrar detalhes mínimos dos mais antigos fatos, de objetos já consumidos, de pessoas já há longos anos idas...
E a poetisa veio com um vocabulário tão belo, tão rico, tão elegante...
E a poetisa nos encanta com uma tão aguda sensibilidade frente à complexidade do contexto social, diante da simplicidade das pessoas simples, da natureza, dos objetos; encanta-nos enfim, pela bela, perfeita e sutilíssima visão que nos deu da vida.
Cora Coralina, amada das gentes, dos intelectuais, de todos quantos já a ouviram ou leram seu poemas.
Deusa que extravasou a sua sensibilidade, encantando os outros.
Musa que na beleza de sua figura de anciã seguia inspirando tantas expressões de afeto e admiração.
Que o tempo, seu criador, continue apaixonado pela obra que criou e siga a recriá-la sempre, todos os dias, para que outras gerações tenham também o privilégio de conhecê-la, pelos testemunhos, por sua obra de extrema beleza e sensibilidade, pelo seu saber e pelo exemplo de vida que deixou.
22.10.l983 -- Rilmar
Quem é essa missionária que percorreu esses brasis?...
Que divindade é essa que perpassou os séculos?...
Quem é essa minerva que todos pararam para ouvir?...
Quem é a poetisa capaz de despertar emoções tão grandes em tantas gerações?...
Quem é essa bem amada de todas as camadas sociais?...
É Cora-Coralina, estela mor da poesia goiana.
A expressão mais bela e perfeita da arte do tempo. Sim, nela encontramos o resultado de pacientes e divinas pinceladas dadas uma hoje, outra amanhã, outra um mês, um ano, uma década depois. Arte que o tempo gerou em longuíssima gestação e não poupou meios, matéria, ambientes, nem emoções para a obtenção do sonhado fruto.
Assim, o tempo mesmo quis ser tintas, pincel e cinzel. Para forja, para estufa, para torno usou épocas, pessoas, labores, ambientes e a expôs às mais complexas e variadas emoções.
Ante a possibilidade de que as causas externas projetadas no amálgama incipiente que era ela tivessem efeitos imprevisíveis, o tempo pediu a Deus que a prouvesse de uma alma tal que, mesmo encarnada, transcendesse sempre aos sentimentos humanos. E essa transcendência fazia os sofreres mais sofridos, as dores mais doídas, a solidão mais solitária; intensificava as angústias, engrossava as lágrimas, tornava mais incontidos os soluços. Mas, a mesma transcendência a fazia ir lentamente captando ensinamentos nos fatos, nos erros, nas opressões, nos desprezos. A mesma transcendência a fazia entender, compreender, e, ao invés de acumular mágoas, ter desabrochado, no lugar de cada uma, um embrião de sensibilidade.
Não sei precisar se o tempo, na laboriosa faina de a compor, andou tendo dúvidas, ou se trabalhou sempre seguindo o mesmo plano.
O mais provável é que ela tenha influenciado o processo, condicionando o seu criador, o qual, diante de cada esboço concluído, iniciava o seguinte dentro da inspiração inicial, mas sofrendo naturais influências do que tinha diante de si. –“Não é o poeta que faz a poesia – E, sim, a poesia que condiciona o poeta”.
E pela vida afora o tempo a foi fazendo.
Deu-lhe têmpera no trabalho árduo, nas contradições, nas incompreensões, nos sofrimentos vários.
Burilou-a na escola primária da mestra inesquecível, no gosto pela leitura, nas convivências, nas tantas vivências.
Preparou-a. Aguçou-lhe a sensibilidade. Aprimorou-lhe as faculdades intelectuais...
Na atmosfera da Capital Velha, berço da cultura de Goiás, deixou-a exposta longos e importantes anos para que reunisse em si, os elementos que lhe facultassem extrair de outras vivências, das andanças, das viagens, das novas moradas; ensinamentos, beleza, poesia e também a capacitassem, a, em qualquer lugar ou circunstância, ser incansável e produtiva.
Como seu criador inspirava-se na Aninha de hoje para criar a Cora de amanhã, ela nunca atingiu o estágio final. Todo o dia o tempo a fazia uma nova Cora Coralina.
E, do burilar contínuo, dos retoques do pincel, do constante recriar é que tivemos a menina inzoneira, chorona, sabida demais; a moça bonita, metamorfose da menina feia; a doceira; a mulher decidida, trabalhadeira, criativa e finalmente, para que vislumbrássemos um pouco de seu incalculável conteúdo, para que a compreendêssemos mesmo sem sermos capazes de segui-la em seu constante aperfeiçoamento; a revelou na poesia.
E a poetisa surgiu com toda a força de um saber acumulado desde o século passado, com o prodígio de uma memória capaz de lembrar detalhes mínimos dos mais antigos fatos, de objetos já consumidos, de pessoas já há longos anos idas...
E a poetisa veio com um vocabulário tão belo, tão rico, tão elegante...
E a poetisa nos encanta com uma tão aguda sensibilidade frente à complexidade do contexto social, diante da simplicidade das pessoas simples, da natureza, dos objetos; encanta-nos enfim, pela bela, perfeita e sutilíssima visão que nos deu da vida.
Cora Coralina, amada das gentes, dos intelectuais, de todos quantos já a ouviram ou leram seu poemas.
Deusa que extravasou a sua sensibilidade, encantando os outros.
Musa que na beleza de sua figura de anciã seguia inspirando tantas expressões de afeto e admiração.
Que o tempo, seu criador, continue apaixonado pela obra que criou e siga a recriá-la sempre, todos os dias, para que outras gerações tenham também o privilégio de conhecê-la, pelos testemunhos, por sua obra de extrema beleza e sensibilidade, pelo seu saber e pelo exemplo de vida que deixou.
22.10.l983 -- Rilmar
sábado, 10 de julho de 2010
Lar. Último reduto
O último reduto, derradeiro bastião, trincheira pela qual se bate até que se exauram as últimas forças no intuito de preservá-lo, se não para si, para os que compõem essa molécula vital da sociedade, chamada família
Em seu lar cada indivíduo se abriga, se preserva.
No lar que é um espaço físico, social, psíquico; resguardam-se a família, os entes mais queridos, mais caros, mais importantes que o universo todo.
Preservem-no.
Não permitam que o invadam nem de forma abrupta e cruel, nem de forma lenta e dissimulada ou não, nem a nenhum pretexto.
O lar é um reduto da moral, dos usos, dos costumes, da religiosidade; de todas as experiências de vida que experimentamos, filtramos e queremos passar para nossos descendentes.
Quando de sua constituição, já houve uma interação entre os cônjuges, que se escolheram porque se aprovaram e querem, em comum, passar aos descendentes o bom e o sábio que têm dentro de si.
Nosso lar nos protege, mormente nos primeiros anos, de todas e quaisquer agressões que ameacem a integridade física, até mesmo um mínimo arranhão ou um toque ríspido. Protege-nos das doenças, das situações de risco a que a inocência ou a inexperiência nos expõem. Preserva-nos da maldade, da violência, da influência má ou equivocada. Guarda-nos, educa, ensina, mostra, prepara.
O lar não é uma coisa, um objeto que se possa dividir sem prejuízo da essência. Não tem botões de delere ou ajustes exatos. Nós dirigimos, formamos e até fazemos correções no todo do lar; mas há, como que um código diluído no todo que na medida em que vai sendo montado, resiste a correções, influencia o codificador, rebela-se, equivoca-se com informações contraditórias que não sabe filtrar.
Precisamos de um tempo de reservada convivência para conformar a moral, a ética, a filosofia de vida, as crenças e os mais básicos conhecimentos para a sobrevivência e capacidade de escolhas.
Precisamos de tempo para concretizar, fortalecer, aprimorar a estrutura física e mental.
De um tempo para robustecer fortemente os laços de amor entre os membros da família.
O lar não é propriedade de ninguém especificamente; é da família e pertence a todos os seus membros: pais e filhos. Seus guardiões naturais são os pais. Grande é seu compromisso. Enorme sua responsabilidade. Torna-se, no entanto, prazerosa e suave com presença do amor.
“Caso um missionário caísse no meio de uma aldeia primitiva, ainda que o comessem, a aldeia não seria mais a mesma. Pior ainda se o preservassem”
Nosso lar se assemelha! Na verdade deve e é necessária uma interação constante com a sociedade mas, o filtro principal são os pais que terão mais condição de passar suas essências, seus conteúdos de vida a seus filhos quanto mais limpas e ávidas estiverem suas mentes.
O contato, a integração com o mundo será cada vez maior e a nossa herança, nosso arsenal, nossa conformação física e psíquica farão com que separemos joio de trigo, soframos influências mas, façamos escolhas e também influenciemos para que o universo social nos acolha e seja agradável pára o todo e para cada um de nós.
Por melhor que seja o mundo, é bom que os filhos amem voltar ao lar de quando em vez e reviver momentos de convívio com suas raízes. Esses laços são naturais e se estabelecem no tempo em que se viveu no lar, em família.
Rilmar --03.07.2010
Em seu lar cada indivíduo se abriga, se preserva.
No lar que é um espaço físico, social, psíquico; resguardam-se a família, os entes mais queridos, mais caros, mais importantes que o universo todo.
Preservem-no.
Não permitam que o invadam nem de forma abrupta e cruel, nem de forma lenta e dissimulada ou não, nem a nenhum pretexto.
O lar é um reduto da moral, dos usos, dos costumes, da religiosidade; de todas as experiências de vida que experimentamos, filtramos e queremos passar para nossos descendentes.
Quando de sua constituição, já houve uma interação entre os cônjuges, que se escolheram porque se aprovaram e querem, em comum, passar aos descendentes o bom e o sábio que têm dentro de si.
Nosso lar nos protege, mormente nos primeiros anos, de todas e quaisquer agressões que ameacem a integridade física, até mesmo um mínimo arranhão ou um toque ríspido. Protege-nos das doenças, das situações de risco a que a inocência ou a inexperiência nos expõem. Preserva-nos da maldade, da violência, da influência má ou equivocada. Guarda-nos, educa, ensina, mostra, prepara.
O lar não é uma coisa, um objeto que se possa dividir sem prejuízo da essência. Não tem botões de delere ou ajustes exatos. Nós dirigimos, formamos e até fazemos correções no todo do lar; mas há, como que um código diluído no todo que na medida em que vai sendo montado, resiste a correções, influencia o codificador, rebela-se, equivoca-se com informações contraditórias que não sabe filtrar.
Precisamos de um tempo de reservada convivência para conformar a moral, a ética, a filosofia de vida, as crenças e os mais básicos conhecimentos para a sobrevivência e capacidade de escolhas.
Precisamos de tempo para concretizar, fortalecer, aprimorar a estrutura física e mental.
De um tempo para robustecer fortemente os laços de amor entre os membros da família.
O lar não é propriedade de ninguém especificamente; é da família e pertence a todos os seus membros: pais e filhos. Seus guardiões naturais são os pais. Grande é seu compromisso. Enorme sua responsabilidade. Torna-se, no entanto, prazerosa e suave com presença do amor.
“Caso um missionário caísse no meio de uma aldeia primitiva, ainda que o comessem, a aldeia não seria mais a mesma. Pior ainda se o preservassem”
Nosso lar se assemelha! Na verdade deve e é necessária uma interação constante com a sociedade mas, o filtro principal são os pais que terão mais condição de passar suas essências, seus conteúdos de vida a seus filhos quanto mais limpas e ávidas estiverem suas mentes.
O contato, a integração com o mundo será cada vez maior e a nossa herança, nosso arsenal, nossa conformação física e psíquica farão com que separemos joio de trigo, soframos influências mas, façamos escolhas e também influenciemos para que o universo social nos acolha e seja agradável pára o todo e para cada um de nós.
Por melhor que seja o mundo, é bom que os filhos amem voltar ao lar de quando em vez e reviver momentos de convívio com suas raízes. Esses laços são naturais e se estabelecem no tempo em que se viveu no lar, em família.
Rilmar --03.07.2010
L A R
O último reduto, derradeiro bastião, trincheira pela qual se bate até que se exauram as últimas forças no intuito de preservá-lo, se não para si, para os que compõem essa molécula vital da sociedade, chamada família
Em seu lar cada indivíduo se abriga, se preserva.
No lar que é um espaço físico, social, psíquico; resguardam-se a família, os entes mais queridos, mais caros, mais importantes que o universo todo.
Preservem-no.
Não permitam que o invadam nem de forma abrupta e cruel, nem de forma lenta e dissimulada ou não, nem a nenhum pretexto.
O lar é um reduto da moral, dos usos, dos costumes, da religiosidade; de todas as experiências de vida que experimentamos, filtramos e queremos passar para nossos descendentes.
Quando de sua constituição, já houve uma interação entre os cônjuges, que se escolheram porque se aprovaram e querem, em comum, passar aos descendentes o bom e o sábio que têm dentro de si.
Nosso lar nos protege, mormente nos primeiros anos, de todas e quaisquer agressões que ameacem a integridade física, até mesmo um mínimo arranhão ou um toque ríspido. Protege-nos das doenças, das situações de risco a que a inocência ou a inexperiência nos expõem. Preserva-nos da maldade, da violência, da influência má ou equivocada. Guarda-nos, educa, ensina, mostra, prepara.
O lar não é uma coisa, um objeto que se possa dividir sem prejuízo da essência. Não tem botões de delere ou ajustes exatos. Nós dirigimos, formamos e até fazemos correções no todo do lar; mas há, como que um código diluído no todo que na medida em que vai sendo montado, resiste a correções, influencia o codificador, rebela-se, equivoca-se com informações contraditórias que não sabe filtrar.
Precisamos de um tempo de reservada convivência para conformar a moral, a ética, a filosofia de vida, as crenças e os mais básicos conhecimentos para a sobrevivência e capacidade de escolhas.
Precisamos de tempo para concretizar, fortalecer, aprimorar a estrutura física e mental.
De um tempo para robustecer fortemente os laços de amor entre os membros da família.
O lar não é propriedade de ninguém especificamente; é da família e pertence a todos os seus membros: pais e filhos. Seus guardiões naturais são os pais. Grande é seu compromisso. Enorme sua responsabilidade. Torna-se, no entanto, prazerosa e suave com presença do amor.
“Caso um missionário caísse no meio de uma aldeia primitiva, ainda que o comessem, a aldeia não seria mais a mesma. Pior ainda se o preservassem”
Nosso lar se assemelha! Na verdade deve e é necessária uma interação constante com a sociedade mas, o filtro principal são os pais que terão mais condição de passar suas essências, seus conteúdos de vida a seus filhos quanto mais limpas e ávidas estiverem suas mentes.
O contato, a integração com o mundo será cada vez maior e a nossa herança, nosso arsenal, nossa conformação física e psíquica farão com que separemos joio de trigo, soframos influências mas, façamos escolhas e também influenciemos para que o universo social nos acolha e seja agradável pára o todo e para cada um de nós.
Por melhor que seja o mundo, é bom que os filhos amem voltar ao lar de quando em vez e reviver momentos de convívio com suas raízes. Esses laços são naturais e se estabelecem no tempo em que se viveu no lar, em família.
Rilmar --03.07.2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
TERRA SUOR E MILAGRE
(Histórias Possíveis)
Terra, Suor e Milagre
Foi tão casual o achado meu naquele dia, quanto foi valioso e inesperado.
Um grande e cobiçado diamante!
E era meu!
Então o vendi para um homem que se dizia sócio de um banco.
Apurado o dinheiro dei-o a meu pai que, na verdade, foi quem o recebeu do homem e era, a meu ver, a pessoa mais sábia e honrada do mundo.
Meu pai, na sua imensa sabedoria, tratou de aplicar a fortuna de modo a dar renda e ocupação a toda família.
Comprou um trator novo e robusto, ágil e durável além de econômico.
Comprou terras planas e férteis a perder de vista.
Pensou, pensou e concluiu: - Vamos plantar mandioca. O risco é pequeno, o preço está ótimo, o custeio é baixo e dá pouco trabalho.
É notório o destemor dos Gomensauros (ancestrais pré-históricos dos Gomes atuais); por isso mesmo ficou decidido que plantaríamos um mandiocal tão grande que causasse espanto a todos os demais plantadores dali e de lugares distantes.
Tínhamos a terra, as ramas de mandioca, um ufanismo destemperado e sem tamanho e, sobretudo, tínhamos ainda uma boa quantia em dinheiro.
Cem alqueires de terra plana e fértil; uma infinidade de toletes de ramas de mandiocas; as mais variadas: mandioca pão, mandioca amarela, mandioca cacau, caipira de Minas, da Bahia, do Pará, mandioca brava e outras mais.
Depois de tudo arado, revolvido, corrigido, adubado; tocamos a plantar, plantar até que não houvesse mais três palmos quadrados de terra sem dois toquinhos de mandioca plantados.
Só a planura da terra com as eiras de covas cobertas já tinha muita beleza; mas quando choveu copiosamente e depois de alguns dias a brota ocorreu, foi que a vista se tornou maravilhosa mesmo.
A brota veio com força, vida, esplendor e cores que iam do verde de vários tons ao marrom avermelhado; e tudo virou um grande tapete que ia e ia se estendendo em direção ao horizonte até perder de vista. O vento ondulava e dava ainda mais vida àquele painel de proporções infinitas.
E tome trabalho, e luta, perseverança, obstinação incansável, capinas, combates às pragas; orações silenciosas pedindo chuva, sol e saúde.
Finalmente a lavoura estava no ponto, podíamos arrancar (colher), vender e apurar novamente dinheiro com o merecido lucro.
Aí eu resolvi abrir a boca e opinar...!
-Não gente!... Que bobagem é essa? Vamos industrializar o produto e lucrar muito mais!
Como?... Disse meu pai, o dinheiro acabou!
-Ora, a gente vende o trator e compra o maquinário que são os ralos, as mesas, as peneiras, os tanques, as ensecadeiras, etc; compra sacos para embalar, lonas para a secagem e grampos para fechar os sacos.
Expus minha idéia de tal maneira e pus tudo tão fácil que acabei por convencer meu pai e toda a família de que a idéia era boa e facilmente exeqüível.
E lá fomos nós produzir polvilho...
O tempo ajudou e fez muito sol com pouco vento. Trabalhamos como loucos. Ninguém de casa escapou. Moças, rapazes, velhos, meninos, universitários de férias, gatos e cachorros.
Arranca mandioca, lava na bica, carrega pro galpão, descasca, rala, molha, côa, deixa assentar o polvilho, esparrama para secar. Então o polvilho com a brancura da neve cobriu um campo quase tão extenso como era o mandiocal. Depois ensacamos, fechamos os sacos de uma quarta, empilhamos tudo em um depósito e fomos atrás de compradores.
- O preço tinha caído!, Ninguém queria comprar!...
- Ai meu Deus!... E agora?...
Doamos, distribuímos, consumimos e vender mesmo que era bom, quase nada.
A ruína já era quase certa. Foi então que um tio meu chegou com a notícia de que a farinha de mandioca era o produto do momento e que se vendêssemos a qualquer preço uns restos de nosso polvilho poderíamos construir fornos e torrar o rejeito de mandioca, que estava guardado, obtido na produção de polvilho e o transformarmos em farinha de mandioca de boa qualidade.
Quem está perdido não caça caminho! Não é mesmo?
Pois é, daí, vendemos as toneladas restantes do nosso polvilho e aplicamos tudo em peneiras, fornos, lenha e carvão e desandamos a fabricar farinha de mandioca.
Implantamos uma incontável quantidade de fornos em forma de iglus que ocuparam os vastos campos que à época do polvilho pareciam extensas planícies cobertas de neve.
A nuvem de fumaça, de complexa química, emanando dos fornos rumava direto para a camada de ozônio e quase duplicou o buraco além de reforçar o efeito estufa, tal era a quantidade de fumegantes fornos.
Os olhos se enchiam de lágrimas pelo ardido da fumaça e pela emoção de ver uma indústria produzindo.
Estaríamos salvos?
Ainda não.
Uma noite, depois que havíamos fabricado e estocado toda a farinha, uma grande chuva de trovões, ventos e granizos aconteceu com toda a fúria e arrancou telhas, e revirou tapumes, e invadiu galpões...
Molhou toda a farinha.
Bateu um enorme desânimo.
Desastre total?
Ainda não.
Não é que no dia seguinte, quando estávamos no maior desespero, no mais completo desânimo; o telefone tocou e atendendo eu ouvi:
- Como? - Se temos farinha? – Temos, mas está molhada, muito molhada. - Hein, vocês só se interessam por ela se estiver molhada? – Não acredito. – Mas para que serve farinha molhada?
- Para fazer pirão!
- Sim, dizia a voz, basta acrescentar cubinhos de caldo de carne e depois separar em porções, levar ao fogo e, a seguir congelar. Pirão de mistura repousada, quanto mais antiga melhor; a Europa compra tudo e a Bahia também... é pegar ou largar... Vocês vendem?
- É claro que vendemos.
Pagamos as dívidas e com a sobra vamos comprar um novo trator e aproveitar as ramas do antigo mandiocal para começar tudo de novo.
Rilmar José Gomes
28/07/2007
Terra, Suor e Milagre
Foi tão casual o achado meu naquele dia, quanto foi valioso e inesperado.
Um grande e cobiçado diamante!
E era meu!
Então o vendi para um homem que se dizia sócio de um banco.
Apurado o dinheiro dei-o a meu pai que, na verdade, foi quem o recebeu do homem e era, a meu ver, a pessoa mais sábia e honrada do mundo.
Meu pai, na sua imensa sabedoria, tratou de aplicar a fortuna de modo a dar renda e ocupação a toda família.
Comprou um trator novo e robusto, ágil e durável além de econômico.
Comprou terras planas e férteis a perder de vista.
Pensou, pensou e concluiu: - Vamos plantar mandioca. O risco é pequeno, o preço está ótimo, o custeio é baixo e dá pouco trabalho.
É notório o destemor dos Gomensauros (ancestrais pré-históricos dos Gomes atuais); por isso mesmo ficou decidido que plantaríamos um mandiocal tão grande que causasse espanto a todos os demais plantadores dali e de lugares distantes.
Tínhamos a terra, as ramas de mandioca, um ufanismo destemperado e sem tamanho e, sobretudo, tínhamos ainda uma boa quantia em dinheiro.
Cem alqueires de terra plana e fértil; uma infinidade de toletes de ramas de mandiocas; as mais variadas: mandioca pão, mandioca amarela, mandioca cacau, caipira de Minas, da Bahia, do Pará, mandioca brava e outras mais.
Depois de tudo arado, revolvido, corrigido, adubado; tocamos a plantar, plantar até que não houvesse mais três palmos quadrados de terra sem dois toquinhos de mandioca plantados.
Só a planura da terra com as eiras de covas cobertas já tinha muita beleza; mas quando choveu copiosamente e depois de alguns dias a brota ocorreu, foi que a vista se tornou maravilhosa mesmo.
A brota veio com força, vida, esplendor e cores que iam do verde de vários tons ao marrom avermelhado; e tudo virou um grande tapete que ia e ia se estendendo em direção ao horizonte até perder de vista. O vento ondulava e dava ainda mais vida àquele painel de proporções infinitas.
E tome trabalho, e luta, perseverança, obstinação incansável, capinas, combates às pragas; orações silenciosas pedindo chuva, sol e saúde.
Finalmente a lavoura estava no ponto, podíamos arrancar (colher), vender e apurar novamente dinheiro com o merecido lucro.
Aí eu resolvi abrir a boca e opinar...!
-Não gente!... Que bobagem é essa? Vamos industrializar o produto e lucrar muito mais!
Como?... Disse meu pai, o dinheiro acabou!
-Ora, a gente vende o trator e compra o maquinário que são os ralos, as mesas, as peneiras, os tanques, as ensecadeiras, etc; compra sacos para embalar, lonas para a secagem e grampos para fechar os sacos.
Expus minha idéia de tal maneira e pus tudo tão fácil que acabei por convencer meu pai e toda a família de que a idéia era boa e facilmente exeqüível.
E lá fomos nós produzir polvilho...
O tempo ajudou e fez muito sol com pouco vento. Trabalhamos como loucos. Ninguém de casa escapou. Moças, rapazes, velhos, meninos, universitários de férias, gatos e cachorros.
Arranca mandioca, lava na bica, carrega pro galpão, descasca, rala, molha, côa, deixa assentar o polvilho, esparrama para secar. Então o polvilho com a brancura da neve cobriu um campo quase tão extenso como era o mandiocal. Depois ensacamos, fechamos os sacos de uma quarta, empilhamos tudo em um depósito e fomos atrás de compradores.
- O preço tinha caído!, Ninguém queria comprar!...
- Ai meu Deus!... E agora?...
Doamos, distribuímos, consumimos e vender mesmo que era bom, quase nada.
A ruína já era quase certa. Foi então que um tio meu chegou com a notícia de que a farinha de mandioca era o produto do momento e que se vendêssemos a qualquer preço uns restos de nosso polvilho poderíamos construir fornos e torrar o rejeito de mandioca, que estava guardado, obtido na produção de polvilho e o transformarmos em farinha de mandioca de boa qualidade.
Quem está perdido não caça caminho! Não é mesmo?
Pois é, daí, vendemos as toneladas restantes do nosso polvilho e aplicamos tudo em peneiras, fornos, lenha e carvão e desandamos a fabricar farinha de mandioca.
Implantamos uma incontável quantidade de fornos em forma de iglus que ocuparam os vastos campos que à época do polvilho pareciam extensas planícies cobertas de neve.
A nuvem de fumaça, de complexa química, emanando dos fornos rumava direto para a camada de ozônio e quase duplicou o buraco além de reforçar o efeito estufa, tal era a quantidade de fumegantes fornos.
Os olhos se enchiam de lágrimas pelo ardido da fumaça e pela emoção de ver uma indústria produzindo.
Estaríamos salvos?
Ainda não.
Uma noite, depois que havíamos fabricado e estocado toda a farinha, uma grande chuva de trovões, ventos e granizos aconteceu com toda a fúria e arrancou telhas, e revirou tapumes, e invadiu galpões...
Molhou toda a farinha.
Bateu um enorme desânimo.
Desastre total?
Ainda não.
Não é que no dia seguinte, quando estávamos no maior desespero, no mais completo desânimo; o telefone tocou e atendendo eu ouvi:
- Como? - Se temos farinha? – Temos, mas está molhada, muito molhada. - Hein, vocês só se interessam por ela se estiver molhada? – Não acredito. – Mas para que serve farinha molhada?
- Para fazer pirão!
- Sim, dizia a voz, basta acrescentar cubinhos de caldo de carne e depois separar em porções, levar ao fogo e, a seguir congelar. Pirão de mistura repousada, quanto mais antiga melhor; a Europa compra tudo e a Bahia também... é pegar ou largar... Vocês vendem?
- É claro que vendemos.
Pagamos as dívidas e com a sobra vamos comprar um novo trator e aproveitar as ramas do antigo mandiocal para começar tudo de novo.
Rilmar José Gomes
28/07/2007
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