quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Beijaria Emocionado as Mãos dos Mestres




Durante toda a minha vida venho conhecendo mestres e, certamente, muitos outros terão a bondade de me ensinar coisas e saberes pela vida a fora.

Beijaria emocionado hoje, as mãos de todos os meus professores e pediria perdão pelas minhas traquinagens, minhas insubordinações, pelas macaquices , pelas vezes que compareci sem ter feito os deveres de casa.
Beijaria com lágrimas nos olhos todos eles e todas elas. Agradeceria muito e, em troca, mostraria meus êxitos, minhas vitórias e diria: obrigado por terem conduzido, orientado, compelido a estudar; àquele adolescente inquieto, rebelde, inseguro, confuso diante da vida.
Obrigado mestres do G. E. Ipameri, hoje: Colégio Estadual Professor Eduardo Mancine.

. Obrigado funcionários da disciplina, da secretaria, porteiros, zeladores, obrigado a todos. Meu pai era bedel e sei que era peça importante, tenho orgulho dele.
Rememorando vou ao Grupo Escolar Estadual de Ipameri onde iniciei o primário e também tive mestres inesquecíveis, incluindo aí a minha mãe que era, ora Diretora, ora era professora além da mãe que fazia milagres, com o ganho irrisório que sempre acompanha os professores, ao manter, com meu pai, oito bocas de oito filhos que em casa a aguardavam.

Meu amor por minha mãe necessita de muitos capítulos para ser descrito.
Com tantas imagens habitando meu peito, todas de imensurável importância; para momentaneamente me ater a uma, terei que, aleatoriamente, pinçar no fundo da mente e tentar tirar uma experiência de vida, uma mestra que tenha também marcado muito; um símbolo: Da.Nazária...
A Escola Sant’Ana; Escola de Da. Nazária é um marco inusitado e inacreditável nos dias de hoje.
A mestra ali na frente, cabelos já ficando grisalhos, olhar firme, de pequena estatura, mas forte. Os olhos vasculhavam cada cantinho da sala a todo instante. A voz era calma e eficaz. O semblante envolvia e dominava a sala toda.
Na sala, alunos de primeiro, segundo, terceiro e quarto anos primários; masculinos e femininos.
Conversa nenhuma entre os alunos. Atenção ao quadro, aos livros ou à mestra.
Disciplina plena, pela capacidade da mestra que tudo via, exigindo respeito e dedicação.
Punições existiam, mas sem serem totalmente brandas, eram mais oportunas que severas.
Sobre a mesa da mestra: uma pedrinha arredonda e antiga que era um código para saber se tinha alguém na privadinha do fundo do quintal.
Pedrinha na mesa: sanitário livre. Pedrinha ausente: sanitário ocupado. Funcionava maravilhosamente. A privadinha tinha como porta uma cortina feita com saco de aniagem e, mesmo assim, nunca houve qualquer confusão.
Ninguém nunca se atreveu a sumir com a tal pedrinha ou levá-la para casa inadvertidamente.
A escola de Da. Nazária funcionava de modo surpreendente e maravilhoso.
Imaginem que lá eram matriculados, além dos alunos comuns, os ditos problemáticos de Ipameri e de toda uma vasta região e, lá, por receberem atenção, serem incentivados, aconselhados, exigidos, todos evoluíam positivamente. A sala era pequena para tanta gente; até porque havia sempre alguém pedindo mais uma vaga e, de uma forma ou de outra; sendo atendido. Como as aulas eram no período da tarde, o calor era muito embora amplas janelas iluminassem a sala e deixassem correr um ventinho de quando em vez. Calor, estômago cheio depois do almoço, livros, idade de menino; tudo dava um sono danado e levava a gente a querer sair um pouco da sala. Da. Nazária instituiu então um prêmio para quem fosse estudioso e confiável: permitia que tais alunos fossem estudar no quintal da escola, à sombra das árvores. Por esse prêmio, eu fazia qualquer coisa. Outro prêmio era poder sair antes do final das aulas. Após o recreio as turmas iam sendo chamadas para “dar a lição”. Série por série éramos chamados para formar um semicírculo em volta da mesa da professora e íamos respondendo a perguntas sobre os temas do dia (história, geografia, matemática, português). Quem se saísse bem era dispensado e podia ir para casa mais cedo. Esse prêmio também me encantava. Nós adorávamos Da. Nazária, a quem pedíamos bênção na entrada da sala de aula e a apoiávamos em tudo. Ai de quem a ofendesse. Era, para nós, como uma mãe da época, que cuidava, educava, orientava, exigia e, se fosse preciso, punia na medida. Estou certo de que a relação mestre-aluno era muito boa; hoje, embora mais moderna, percebo que anda carecendo de ajustes; muitos ajustes. Sua ligação com seus alunos era tal que, para citar um exemplo, certo dia eu estava na rua catando esterco para adubar a horta lá de casa e, nesse mesmo dia nós teríamos prova de matemática. Da. Nazária, passando por ali, me chamou e perguntou se eu não estava lembrado da prova e, ao saber que eu estava cumprindo ordens de meu pai, foi lá em casa, conversou um bom tempo com meu pai que era sistemático e inacessível, nisso eu estava de longe; em seguida meu pai me chamou e me mandou ir estudar. Foi tanta responsabilidade sobre meu ombro que naquela tarde eu tirei um dez e nunca mais esqueci aquele dia, nem da atitude dela
Permita mestra, onde você estiver que eu abrace e beije seus cabelos crespos, que possa deixar cair nas costas de suas mãos, ao beijá-las, duas lágrimas de saudade e manifeste esse apreço enorme, essa admiração e agradeça a Deus (lembra que a senhora nos ensinava tanto a amar Jesus?) por esse privilégio de ter sido seu aluno durante um tempo em que tive grandes avanços no meu aprendizado escolar e de vida.
Obrigado Mestres de todos os tempos!...
15 de outubro de 2009
Rilmar

Um comentário:

  1. Realmente um texto emocionante, que faz com que todos que o leem, se lembre de um desses mestres que mudam a nossa vida em algum momento da juventude...Laura

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