Sob esse título, que soa para mim como Davi, Davi, Davi; falo um pouco desse grande ipamerino que, assim como alguns outros, deveria ter um busto erigido em praça pública.
Talvez, Ipameri devesse ter uma praça dos grandes vultos e, nas escolas, um dia por ano, fosse dedicado todo o tempo de uma ou duas aulas para se falar nos grandes vultos ipamerinos.
Minha percepção do Dr. David Cosac, é a percepção do povo, do menino que eu era quando em 1947 foi eleito prefeito de Ipameri. Estava sendo eleito um jovem médico que fizera seu curso no Rio de Janeiro onde permanecera fazendo estágios e se especializando por mais dois anos.
Inteligentíssimo, entusiasmado, com uma grande capacidade de trabalho; esplêndida formação médica que aliada à inteligência, coragem, à capacidade de decisão e ao inconformismo com as limitações técnicas encontradas na cidade para o pleno exercício da prática médica em Ipameri; fez com se tornasse, a meu ver, o grande agente para mudanças e para o estabelecimento de condições que tornaram Ipameri um centro de referência e acolhimento para tratamento, do povo de Ipameri e de uma vasta região cujo raio talvez ultrapassasse duzentos quilômetros.
Em um tempo em que a saúde não era direito do povo, não existiam planos de saúde nem SUS ou qualquer outra via de acesso a um tratamento hospitalar para quem não podia pagar; a criação de um grande hospital, bem equipado, com equipe médica competente e com sentido de equipe; e, além disso, um Hospital que na origem já era uma Associação Benemérita, uma Hospital do povo e para o povo.
A pessoa que concebeu, liderou uma equipe de valorosos cidadãos, mobilizou o povo, peregrinou em busca de verbas, fez parte de todas as etapas do planejamento e da construção e, depois se dedicou de corpo e alma trabalhando como médico generalista cujo campo de atuação abrangia todas as áreas da medicina que iam desde a pediatria, passava pela cirurgia, ginecologia e obstetrícia, psiquiatria, trauma e ortopedia.
A pessoa que foi atrás de colegas usando sua imensa capacidade de convencimento para trazê-los para Ipameri; a pessoa que administrou o hospital cuidando para que tudo fosse bem feito, para que não faltassem material, remédios, lençóis, material de limpeza, instrumentos etc.
Essa pessoa não trabalhou sozinha. Aglutinou esforços. Liderou grandes inteligências, grandes capacidades. Catalizou idéias. Direcionou ações para a conclusão de um objetivo. Formou um corpo de auxiliares, para o que chegou a mandar enfermeira fazer capacitação no Rio de Janeiro.
Para que não houvesse nenhuma possibilidade de que aquela obra não fosse inteiramente de toda a comunidade; ele, toda a equipe, todo o grupo de idealizadores criaram-na como entidade benemérita: Associação de Amparo à Maternidade e à Infância de Ipameri.
Tive algumas oportunidades de conhecer esse homem um pouco mais de perto. Uma delas foi quando eu trabalhava na Tipografia Minerva e o jornal A Folha do Povo era impresso lá. Quase sempre ele ia lá comentar uma matéria ou a colocação de um clichê na matéria que ia ser publicada naquela semana e, assim, eu tinha oportunidade de ouvi-lo argumentar com grande clareza, brilhantismo e de modo às vezes combativo mas, no mais das vezes, alegre e camarada.
Depois, tive oportunidade de trabalhar por algum tempo na residência dele, onde eu auxiliava nos serviços gerais e tinha a função de buscar um galão de leite em uma chácara do Santinoni nas proximidades da cidade. Nessa época eu, certa vez, precisei de uma consulta médica e ele me atendeu com muita cortesia e eficiência. A residência dava fundos para o Hospital e ele, mal almoçava e já estava indo para o hospital. Era incansável.
Muitos anos depois, depois de muitas voltas do mundo e da vida, tive oportunidade de trabalhar com o agora meu colega David Cosac. Se eu já o admirava conhecendo-o de longe, quando trabalhamos juntos, pude testemunhar o idealista, o denodado, o desprendido, o grande colega que me acolheu, me orientou, confiou em mim, fez de tudo para manter uma equipe coesa no Hospital Maternidade de Jaraguá, que foi onde trabalhamos juntos. Quanto mais o conhecia , mais eu me reportava à Ipameri e entendia quem foi aquele grande médico e benfeitor que tinha opositores mas a cidade toda o via como um grande médico e a maioria da população o adorava.
Não vejo como não erigir um busto em praça pública para tão grande homem, tão notória figura humana.
Com você amigo, colega, ipamerino que me orgulha: Da Vida a Vida Vi.
Minha gratidão e admiração
Rilmar - 18.10.2009 –DIA DO MÉDICO
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