Lágrimas
rilmar
É na sala de
parto que pela primeira vez choramos.
Choro inicialmente balbuciado; depois
expandido e manifesto com a plenitude dos pulmões.
Então, no
rostinho angélical, rolam lágrimas do que vê pela vez primeira o mundo.
Primeiras
lágrimas vertidas.
Provocam na
mãe um riso de contentamento e alívio a um só tempo. Mãe que num esgar, contrai
um pouco a face, um lado da boca e semi-serrando os olhos deixa que escapem cristalinas
e benditas lágrimas de alegria, de agradecimentos ao Criador pelo sublime
momento.
Rebento e mãe expressam uma complexidade de sentimentos.
A alegria de
ganhar um filho; tenra e indefesa criatura.
Segurança de
ganhar uma mãe toda ternura, calor, aconchego, cheiro materno e mamas ansiosas pelo
divino sugar do rebento.
Muitas experiências
mais virão vida afora.
Cada
aprendizado que nos leve às lágrimas virá a seu tempo e a seu modo.
Vem um tempo
que lágrimas brotam fácil nos olhos de criança. Lágrimas que pedem, brotam, exigem
tocando o coração, protestam num rostinho lindo, lamentam por pouco, choram
ingratidões pequenas, tristezas leves, saudades breves, ausências curtas,
passageiras sentidas.
Há as
lagrimas vertidas que revelam sentimentos, que comovem, que aliviam almas, que pedem
silenciosas e úmidas um amor impossível, um gesto de amor humano, um fique a
alguém que parte, que gritam um não... não vá.
Há as
lágrimas desesperadas por causas perdidas, pelo mal sem remédio, pela despedida
sem volta.
As que quase
turvam a visão, escorrem abundantes molhando o rosto e manchando as vestes como
nuvens líquidas distribuídas aleatoriamente abaixo da face.
Gotas benditas
que nos acodem como uma forma de lavar as almas e comunicam num código
facilmente decifrável, turbilhões que nos vão por dentro
Cristais reprimidos que enrubescem a face e
entumecem os olhos.
Gotas perdidas
e choradas por causas vans, por quem não merece.
Há aquelas interesseiras,
manipuladoras, cruéis, cruentas e convincentes; melhor fossem contidas que
vertidas.
Há o choro
de uma mãe magoada ou triste pela partida de um filho.
Lágrimas de
mães que choram e riem vendo um filho vencer.
Lágrimas de
um pai que perde o emprego e se desespera.
Lágrimas
enfim, do que sofre, do que chora pelo drama alheio; do que é levado ao pranto
por ver a lágrima que escorre no rosto do outro.
Lágrimas
minhas, suas, nossas.
Do passado,
do presente e do futuro.
Necessárias gotas
de sentimento líquido que rolam procurando caminhos nas faces, revelando dor, gritando
socorro, desespero, destilando mágoas, tristezas, conformação e, fortuitamente,
até alegrias que nos vão por dentro e assomam em nossos olhos contrastando com
o que a boca expressa.
Rilmar – 11/01/2021
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