Segredos não são eternos. Podemos
guardá-los no mais recôndito escaninho de nosso ser, no mais secreto da alma e,
mesmo assim, um dia ele escapa e se revela. Essas casas, essas janelas, essa
sacada; tudo me faz lembrar tão fortemente um tempo, um viver, umas gentes e,
finalmente, uma pessoa. O significado de tudo, o porquê das coisas, o motivo, a
vida enfim, aconteciam pela presença dela. Eram uns olhos negros, irisados de
um castanho brilhante. Era um rosto meigo e lindo no qual fulgia um
sorriso branco e pleno de uma alegria cativante e juvenil. Eram gestos
delicados e graciosos. Era uma presença em uma daquelas janelas que provocava
mil sentimentos dentro de meu peito e tornava tudo luminoso e repleto de
irradiante alegria. Era um amor proibido e inatingível o qual, por mais que que
eu trabalhasse de sol a sol, por mais que minha enxada tilintasse nas pedras e
rebrilhasse ao sol escaldante; por mais que eu quisesse, me atrevesse e
pretendesse: Não era para mim. Ainda assim eu amei, me embebi nos seus olhares,
tive imensas noites de insônia e de sonos povoados de sonhos maravilhosos onde
nós dois vivíamos coisas tão intensas, tão plenas e tão impossíveis que só
podiam existir nos meus sonhos. Ainda assim me maravilhei com os sons de seus
sorrisos e de sua voz; com seus trejeitos, com seus claros e indisfarçáveis
modos de mostrar que me percebia, me correspondia e até sabia a hora que eu
voltava da roça e então aparecia na janela, às vezes, com uma florzinha presa
nos cabelos e, sempre com aquele sorrisinho juvenil iluminando seu rostinho
encantador. - -Não era para mim, não foi minha. No entanto, as lembranças...
Ah!... Essas ninguém me rouba. São minhas e seguirão comigo. Olhando essas
casas, uma magia acontece e essas lembranças borbulham e brotam, ainda que não
seja propriamente esse o lugar, ainda que não sejam exatamente essas as janelas.
-- Rilmar
Nenhum comentário:
Postar um comentário